Acho que tenho me saído melhor do que eu esperava nessa história de cortar o cordão... Digo isso porque até hoje, segundo o Mô, ainda não cortei o meu com a minha mamis, sinto uma necessidade vital de estar com ela todo dia, ao menos falar no telefone. Quando ligo pra lá e ela não atende, fico desmontada, já imagino a cena dela caída etc, nem gosto de pensar. Tenho uma preocupação danada com o que ela come, bebe, faz, aff, uma carrapatia só... Quando ela, depois do 1º mês da Talitinha, juntou as coisas e decidiu que já era hora de voltar pra casa dela, eu fiquei desesperada! Foi tão importante aquele colinho, aquele apoio total, o chão sumiu quando ela resolveu que já bastava...
Por isso então é que pensava ser ainda mais difícil criar meus filhos pro mundo, deixá-los livres para tomar suas decisões, saber apenas orientá-los, apoiá-los nas quedas e a hora de estar a postos e de me ausentar, com discrição. É um aprendizado lento, diário, doloroso... Como cuidar sem invadir, qual é a medida? Laços, não amarras. Como acompanhar sem conduzir, sem arrastar?... Qual é o limite entre abandono e libertação?...
Quem tem sob sua responsabilidade crianças e adolescentes, personalidades em formação, dorme e acorda com esses questionamentos... Apesar de ser muito impulsiva, costumo reconsiderar minhas decisões arbitrárias quando percebo que me excedi. Minha filha começou a andar sozinha de ônibus há poucas semanas, e vivo com o coração na mão, imaginando que ela pode cair, ser atropelada, sofrer um assalto ou outro tipo de assédio, descer no ponto errado (kkkk, e isso JÁ aconteceu). Fico segurando a vontade de ir buscá-la na escola todo dia, sabendo que é preciso que ela passe por esses medinhos para crescer, para se sentir segura e capaz. Deixá-la ir sozinha à padaria ainda me dispara o coração, mas estou sendo forte... Meu filhote também alça seus primeiros voos sozinho, a pé, para a natação e à pscicomotricidade, e a criatividade dos meus pensamentos me deixa até sem graça de contar...
Essa angústia me desequilibra com frequência, pois muitas vezes eles parecem surdos aos meus conselhos, apelos e ordens. Aliás, já li não sei onde, que de tanto a gente falar, falar e repetir, os filhos se desligam mesmo daquela chatice! É preciso, mesmo, deixar que eles passem por apertos, para que amadureçam de verdade. É nossa obrigação dar liberdade para as borboletas...
E o meu refúgio, o meu consolo, é esta prece:
“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.”
(Gibran Khalil Gibran)
(Else, eternaprendiz de mãe)
Impressionante como você torna leve e interessante qualquer tema! E profundo também!!!!bjs
ResponderExcluirAmiguinha, vc sabe de tds minhas angústias como mãe de um só filho... por isso hj, qnd li seu texto, percebi o quão ligada estou a ele... tds seus medos e receios são meus tbm, só q num grau bem + elevado...
ResponderExcluirPreciso ouvir e ler mais essa prece...
Bjinhos com carinho ;* Silvinha
Else, eu consegui me ver em quase todas as linhas do seu belíssimo e tocante texto! Eu tb sou muito preocupada com cada detalhe relacionado aos filhos. O amadurecimento, o aprender a viver de cada um, como eu gostaria de poupar-lhes decepções, dores, angústias. Se eu pudesse, daria-lhes o mundo todo certinho, para que as dores não os alcançassem e tudo isso junto com a dúvida: estou fazendo certo? Qual é a melhor forma de ser mãe? Como não encontro resposta, vou pelo instinto...
ResponderExcluirEu perdi o comentario que fiz sobre esse texto, entao vou escrever outra coisa que tem a ver, mas nao tem muito a ver com isso kkkk...
ResponderExcluireh tao dificil dizer aos nossos filhos que esta tudo bem se ele/a errar. Ontem tive uma experiencia boa com meu filho. Ele esta angustiado querendo ser um inventor (7 anos). Entao me sentei com ele e disse "filho, eu te amo nao eh porque vc eh inteligente, responsavel e amigo. Eu te amo porque eu te amo, e nada do que vc fizer vai mudar isso. Se vc crescer e se tornar um homem importante, famoso, isso so vai acrescentar orgulho ao meu sentimento de amor. O que voce sera no futuro, sera um espelho do que voce eh hoje, entao, aproveite o seu dia de hoje e faca algo de valor hoje". Dentro da sua cabecinha de 7 anos, ele entendeu a minha mensagem. Coincidentemente, meu professor de escola dominical estava falando sobre o amor incondicional de Deus, e eu me lembrei do que havia dito ao meu filho, e entendi como o amor de Deus funciona: Ele nunca deixa de nos amar, mesmo quando esta com raiva de minhas acoes. Ele sempre nos perdoa e nos recebe de volta se nos arrependermos do que fizemos errado. Da mesma forma que eu sempre me emociono quando meus filhos pedem desculpa e vem pro meu colinho logo depois de sair do castigo. Vivi
Ahhh, menina!! Por isso que penso, penso, penso em escrever meu texto e nunca acho que está bom!! Tá explicado, é culpa sua!! Chataaaaa, quem mandou escrever assim tão lindamente, hein??
ResponderExcluirIncrível! Texto lindo que traz as angústias, creio eu, de todas as mamãe. E assim como você, também sou ligadíssima na minha mãe. Ela vem todos os dias aqui ficar com o Henrique, mas mesmo assim, eu ligo todas as noites pra pedir a benção dela e de meu papito...ehehehe
Ah, esses cordões umbilicais "incortáveis", viu...rs
Beijos, querida :)
Else,
ResponderExcluirAdorei a lição da borboleta e esse texto ficou emocionante!
Bjunda
Erika
Else, quando leio seus textos, encontro a razão por que meus textos são poucos comentados, porque com certeza não possuem essa coisa bem picante que você nos transmite.
ResponderExcluirVocê consegue trazer emoção para o texto, todos eles são encantadores! Parabéns pela criatividade!
Bjos