Ser convidado(a)
para batizar alguém é, antes de tudo,
uma demonstração de carinho e confiança em nós e, ao mesmo tempo,
representa uma homenagem carregada de um compromisso que acompanhará a função
de madrinha/padrinho nos próximos dias e anos. É, portanto, uma decisão simples
e complexa se considerarmos os vários ângulos de um mesmo olhar.
Se recebeu o
convite, provavelmente já existe aí uma amizade com vínculo afetivo que,
certamente, não encontrará obstáculos em permanecer-se. Por outro lado, a
palavra “compromisso” tem uma relação próxima com alguns termos menos
simpáticos como: obrigação/dívida/pacto/ peso/responsabilidade...que, de certa
forma, assustam.
De acordo com a etimologia, a palavra madrinha (”de matrem, caso acusativo do latim mater,
pronunciado madre no português dos primeiros séculos, de onde veio comadre,
pela formação cum matre, com a mãe; depois commatre, segunda mãe, madrinha”),
realça a importância de se ter mais alguém
presente e preocupado com a educação da criança, além dos pais. É, portanto,
algo significativo para aquele ser em evidência que precisará de todo apoio
possível para lidar, futuramente, com um
mundo de improbabilidades, sem
perder a firmeza necessária.
O grau de
agradecimento pelo convite e a dúvida se está realmente preparado para tal
decisão são duas vertentes que, a
princípio, se mesclam e, em seguida, se
definem de acordo com a disponibilidade e agrado que o convite lhe causou. Se
haverá possíveis encantos ou desencantos, dúvidas que somente o tempo
responderá. Geralmente consultamos o passado para resolver o presente, mas nem
sempre é uma regra válida, serve apenas como referência.
Causa estranheza saber
que alguém que fora convidado para ser padrinho, desistiu por não concordar com
a escolha da madrinha. E foi o que ocorreu comigo. Meu tio materno José,
(carinhosamente chamado de Dedé) era o escolhido, mas não suportava a moça
indicada para madrinha: Cosma (nome diferente, em homenagem a Cosme e Damião,
figuras importantes na religião católica e em afro-brasileiras) Por isso
cancelou sua participação no evento do meu batismo e meus pais tiveram que, às
pressas, arranjar um substituto. O
indicado, então, foi um primo: Vicente, conhecido como “Teta” (obs. Pronúncia
aberta e não fechada do “e” rss)
Fui batizada por:
Teta e Cosma. Mas durante a minha vida a presença deles foi rara, salvo que ele
foi também meu padrinho de casamento em 1982. Há mais de 45 anos perdi o
contato com minha madrinha e nem sei
onde mora. Meu padrinho, eu o via esporadicamente na casa da minha mãe. Visitei-o
algumas vezes há pouco tempo. Hoje, fazendo uma análise desse elo, eu afirmo
que não houve uma interação plena e satisfatória de ambos os lados. Eu o
considero mais como da família do que alguém intitulado “padrinho”.
Essa preocupação levou-me a refletir bastante na escolha dos padrinhos dos meus filhos. Todavia, eu
nem tive tempo de decidir sobre o primeiro filho. Quando demos a notícia de que
eu estava grávida do Danilo, um amigo do Marcos, o Manuel (chamado de Mané) se
auto-convidou para padrinho com tanto carinho e boa disposição que foi
impossível recusar. Afinal, ele era muito companheiro do meu marido e gostava
da família. Durante a infância e adolescência do Danilo, Mané e Cidinha sempre
visitavam o afilhado, conversavam, brincavam e traziam presentes. Depois que
meu filho ficou adulto, esse contato se reduziu por diversos motivos: houve problemas
de saúde da madrinha, lamentável tragédia na família dos padrinhos e,
infelizmente, o falecimento da madrinha. As coisas tomaram outro rumo, mas a
amizade com o padrinho se manteve; de
vez em quando nos esbarramos na rua, na feira e em visitas raras.
Na segunda gravidez,
os escolhidos foram: Vera, a minha irmã caçula, e Adélio, o esposo dela, para padrinhos da
Patrícia. Foi uma troca justa, já que eu e o meu marido somos padrinhos do
filho deles: o Bruno. Essas crianças cresceram juntas. Nossa família se via
toda semana. Eles sempre presentes participando de cada detalhe da vida da
minha filha e eu fazendo o mesmo. Esse contato frequente foi extremamente
significativo. Existe um carinho e respeito muito grande que perdura. Embora as
obrigações do mundo adulto ocupem muito as pessoas reduzindo o seu tempo
disponível, há os momentos de se ver, trocar presentes, contar piadas,
compartilhar novidades, ensinar, aprender, etc... Não há preço para isso.
As páginas do tempo
foram passando e...meu filho foi pai bem jovem: aos 20 anos. Gabriel nasceu em
fevereiro de 2004 e, novamente, a preocupação referente aos padrinhos brotou
logo. Entretanto, eu era avó e não cabia decidir sobre o assunto (Sugerir sim,
para não perder o hábito rss). Depois de estudar as possibilidades e
indicações, meu filho e a mãe do Gabriel optaram pela escolha de amigos que não
formavam um casal: Leonardo e Lílian. Ele: amigo de infância e adolescência do
Danilo; ela: minha amiga, colega de trabalho que frequentava a minha casa e até
hoje tem amizade com todos nós.
Leonardo aceitou de
coração, mas um episódio fez com que a Lílian desistisse do encargo, abrindo,
assim uma lacuna que deveria ser preenchida antes do batismo da criança. (acho
que já vi uma cena bem parecida com essa há uns anos...).
Precisaria ser alguém
que aceitasse, sem hesitação ser madrinha do Gabriel. E foi assim que entrei
nessa história. Além de avó, sou a “madrinha chicletinho”, ou seja, muito presente, que dá presentes, beijinhos, abraços, afagos,
orientações, broncas, punições e tudo o que estiver ao meu alcance e for
necessário para o bem dele. Se madrinha representa a segunda mãe (de acordo com
a própria etimologia da palavra), então, cumpro o meu papel com muito prazer e
orgulho. Obrigada, meu Deus, por essa graça!
Leonardo, padrinho do Gabriel, é uma pessoa muito ocupada com o trabalho, os estudos, a música, a família, os
amigos, as viagens, etc., porém sempre arruma um tempinho para visitar o
afilhado, sentar ao chão com ele e compartilhar jogos, brinquedos, conversas, risos, informações. Eles têm muita
afinidade, tornaram-se grandes amigos e aproveitam bem o tempo quando estão
juntos para matar as saudades e se divertirem. Não se veem com a frequência
desejada, mas a qualidade e o carinho de
quando se encontram, é visível e compensa.
Uma tela é
insuficiente para as pinceladas que representam enredos resgatados nas memórias
mais antigas e nas recentes. Despejei parte delas neste painel de
reminiscências e reservei o restante para (quem sabe!) uma eventual postagem na
qual eu discorra especificamente sobre: Bruno, Cristiano, Paulinho, Gabriele,
Lucas, meus outros queridos afilhados. Que Deus os abençoe!
(Zizi Cassemiro - mãe
do Danilo e da Patrícia, avó-madrinha do Gabriel e avó do Johnny)
Que lindo Zizi! Como você bem disse: "Ser madrinha é uma honra"! Realmente é uma escolha cheia de compromisso, de responsabilidade. Seu texto traz essa marca de preocupação com a escolha, pois como o significado mostra, a madrinha tem a função de uma mãe.
ResponderExcluirLendo tudo o que você relatou me lembrei de um episódio, quando a minha irmã ganhou seu primeiro filho, o meu ex cunhado não quis que ninguém da família fosse padrinho/madrinha. Como ele era muito amigo de um namorado que eu tinha na época, escolheu pra padrinho do filho, mas como eu era tia, ele não quis que eu fosse a madrinha, resultado: escolheu uma mulher que depois teve um caso com esse meu cunhado e hoje é como se meu sobrinho não tivesse madrinha. Acho que nem tem contato. Triste né!?!
Adorei o seu texto, a forma como você valorizou a função da madrinha/avó que aliás, ficou ainda mais agradável, em dose dupla! E ele merece!! Parabéns pelo delicioso texto, pela escolha das palavras, realmente emocionante!! Obrigada por compartilhar com a gente todas essas alegrias, esses momentos tão incríveis!! Deus continue abençoando grandemente a vida de vocês!!!
Obrigada, Maria José, pela paciência em ler esse meu jornal e por ser tão gentil nos comentários. Nem sempre eu consigo ser concisa. Desssa vez omtexto ficou longoooooo (e olha que eu não falei sobre os meus demais afilhados...
ResponderExcluirA escolha dos padrinhos tem que ser bem pensada, eu até prefiro mesmo pessoas da família porque eles estarão sempre por perto. Se vão acumular funções, não tem problema, o importante é se fazer presente na vida da criança.
A sua história é parecida com a minha, de uma certa forma. Acho sempre melhor chamar casais. No meu caso, sou avó-madrinha do meu neto, mas meu marido é só avô, pois o padrinho já era outra pessoa. Hoje, em dia, a gente nem pensa mais nisso, mas na época ficou chato.bem...a gente costuma superar tudo, porque o que importa mais é o vem da criança.
Padrinhos, sejam de casamento ou de batizado, são engraçados... O povo às vezes acha que tem que ter um de brinde. Tipo: escolhi alguém pra ser padrinho do meu filho, por ter afinidade, amizade, por achar que merece, mas aí essa pessoa tem uma esposa ou uma namorada... dane-se que eu vou "separar" o casal. Não sou obrigada a ter pela companheira a mesma afinidade, né? Povo estranho... rs rs rs
ResponderExcluirA escolha tem que ser bem pensada sim, pois é algo sério... importante... ainda que seja, como no caso do Miguel, só de boca... rs rs rs
Que legal saber que você, além de vó, também é dinda... dindavó! Olha que neologismo interessante pro Gabriel te chamar... rs rs rs
E também não comentei sobre o meu afilhado, por entender que a proposta do blog é sobre MATERNAidade... embora a gente às vezes possa se sentir meio mãe, né? rs rs rs