Interessante o caminho que o ser traça para conseguir a tão sonhada liberdade e de que forma isso se processa. A aparente fragilidade e dependência dos bebês nos permite tomar frente a tudo: brinquedos, comida, bebida, roupas, calçados, modo de pentear os cabelos, acessórios, lugares para ir, amigos, programas de TV, leituras, comportamentos, etc.
Um dia, porém, ele começa a dizer “não” aos nossos gostos e
decisões, alterando, gradativamente, o enredo de 3ª à
1ª pessoa. A princípio, nosso equilíbrio vai ao chão
porque nem sempre concordamos com o que eles querem. O instinto
materno, sempre em estado de alerta, acredita plenamente que cabe às mamães as
determinações relevantes durante o processo do amadurecimento dos filhos.
Entretanto, o suposto clima de antagonismo gerado nessa fase
é positivo; embora sejamos responsáveis por eles com um domínio relativo que se
expressa por meio de conselhos,
sugestões e ordens (nem sempre acatadas), a evidência é uma só: nossos pequenos precisam
crescer não só no tamanho, mas em sabedoria e pertinência para suas escolhas. Se
for diferente, que tipo de pessoas formaremos, então?
Certamente, toda mãe possui experiências
hilárias a relatar sobre esse tema e eu não seria uma exceção, principalmente por ter um casal de filhos e
conhecer as variações típicas de cada gênero. O primogênito, o rebelde Danilo, já aos dois
anos demonstrou sua insatisfação por um determinado tipo de roupa: as formais.
Era um drama quando precisávamos ir a algum evento que exigia um traje mais
formal. Segundo ele, não usaria “roupa de crente”. O pequeno observava o mundo ao redor e havia
percebido que as pessoas religiosas iam à igreja muito bem arrumadas, especialmente os
evangélicos denominados popularmente como “crentes”. Ele, na sua inocência, já
generalizava: arrancava a roupa, chorava, queria outra. Um absurdo para mim! De
onde ele tirara aquele conceito estereotipado?
Em seu aniversário de dois anos, deu muito trabalho convencê-lo a usar uma
bermuda com suspensório infantil. Os anos passavam e os argumentos contrários acompanhavam-no concomitantemente. As recusas
quanto às escolhas de alguns tipos de roupas tornaram-se incisivas. Só aprovava
as informais: camisetas grandes, bermudas simples, calças moletom ou Jeans,
tênis. Camisas, calças e sapatos sociais? Nem pensar!! Na formatura do Ensino
Fundamental, teve que aceitar o que era ideal ao momento, mas com protestos.
Na adolescência, como autêntico roqueiro, optou pelas roupas escuras e o cabelo
comprido. Essa implicância só foi alterada quando adulto, formado em engenharia, foi obrigado a se
trajar conforme as determinações da empresa. Hoje, quando necessário e sem nenhuma resistência, ele desfila cheio de pose com seu terno.
A irmã também desenvolveu opiniões próprias
e restrições com relação às vestimentas desde pequena. Gostava de escolher o que
queria usar e de se vestir sozinha. Em ocasião de festa de aniversário, adorava
abrir os presentes e os agradecia com um lindo sorriso, mas quando ela percebia
que eram conjuntinhos típicos de verão com blusinhas de alça e shortinhos, ela
fechava a cara na hora e dizia que não iria usar “roupas de galinha” (no
sentido conotativo). Era extremamente discreta nas vestimentas. Adorava vestidos,
saias, bermudas “decentes”, calças,
desde que não ficasse exposta ao resto do mundo. Esse gosto a acompanhou durante
toda a infância e adolescência; somente após a maioridade, ela experimentou
as alcinhas e se apaixonou, descobriu, então, que não era “um bicho de sete
cabeças” e que usar algo mais confortável não alteraria em nada o seu
caráter. Para combinar com sua personalidade intensa, marcante e dócil ao mesmo
tempo, Patrícia aderiu aos tons fortes e estampas coloridas, principalmente
quando participa de eventos culturais ou danças folclóricas.
Segundo ela, a cor dá mais vida e
alegria; além disso, as escolhas refletem o estilo da pessoa. Eu adoro
tanto o branco e preto dele quanto o
colorido dela, porque na minha tela a
liberdade de escolha dos pincéis é que dá forma e sentido aos sonhos de cada um,
e eu os amo igualmente na sua
diversidade.
(Zizi Cassemiro – mãe do Danilo e
da Patrícia; avó do Gabriel e do Johnny)
Lendo o seu relato, me lembrei que o Mateus também não gostava das roupas tipo "formais"... Tanto é que até hoje só usa calça jeans, nunca teve um sapato social... Ultimamente até que usa uma camisa de manga longa, em determinados eventos, mas a calça é jeans preto e sapatênis... ou seja, social pela metade rs rs rs.
ResponderExcluirSeu texto, como sempre lindo, bem escrito, enfim, em grande estilo! Que inspiração! Que doce a forma como você descreve as escolhas dos seus pequenos que já são grandes!... Tudo lindo! Amei!!!