O que não faltam nos enredos maternos são situações hilárias protagonizadas pelos nossos rebentos que não hesitam em dizer o que pensam com base na visão de mundo por eles construída. É uma pena que muitos desses casos se perdem na linha do tempo, sendo substituídos por outros à medida que crescem e experimentam novas sensações.
Mesmo assim, há registros que marcam e, de vez em quando, são temas em almoço com a
família ou em rodas descontraídas quando jogamos conversa fora. O sorriso
inevitável ou a gargalhada quase infinita, acompanhados pelos comentários, refletem
a alegria visível nos rostos. Momentos lindamente singulares!
Reconheço que sempre tive uma afeição
particular pelo humor. Desde pequena, fatos comuns me levavam ao delírio das
gargalhadas, principalmente quando havia restrições. Por exemplo: quando ia à
igreja, achava muito sério aquele ritual todo: as pessoas levantam, sentavam,
ajoelhavam, respondiam todas juntas, coordenadas por alguém à frente delas. Entretanto,
eu sempre encontrava algo que distraía minha atenção, principalmente quando
estava com a Vera, minha irmã caçula.
Nós duas ríamos de tudo. Por algumas vezes, o ambiente das gargalhadas foi justamente
a igreja.
Na primeira vez, enquanto tentava
acompanhar as orações, nossos olhos localizaram uma pessoa que fazia diversos movimentos
involuntários com a cabeça. Mal fazia ideia de que aquilo se tratava de uma
Síndrome de Tourette. Não conseguimos mais prestar atenção na missa e desatamos
a rir tanto que tivemos que sair do ambiente pela inconveniência das nossas
atitudes. Fomos punidas pelos nossos
pais com um sermão bem mais extenso que o do padre.
Outro dia, em minha casa, uma
galinha choca escapou do ninho e saiu em disparada mundo afora. Atrás dela corríamos
eu e minha irmã, e quando mais gritávamos “pega a galinha, pega a galinha”,
mais ela se assustava e fugia. Atravessou a rua e entrou justamente na igreja, atrapalhando o momento da oração. Impossível
conter as risadas daqueles que estavam presentes, dessa vez, o absurdo que
passei me fez (paradoxalmente) chorar de rir.
Em outra ocasião solene, já não tão
criança, aos 20 anos, vestida de noiva, meio apreensiva, entrei na igreja
acompanhada por meu pai, para receber as
bênçãos do matrimônio. De repente eu era a protagonista mais esperada daquele momento.
Todos os convidados me acompanhavam com os olhos; no altar, o noivo, o sacerdote
e os padrinhos pareciam tão ansiosos quanto eu. Uma tradicional música de fundo
realçava a seriedade do evento. Todavia, ao invés das tradicionais lágrimas,
minha reação foi contrária e incontrolável: muita risada...tanta, que mal conseguia responder o “sim”.
Como mãe, lamento não conseguir
relatar todos os episódios humorísticos em que meus filhos roubaram a cena, mas
alguns estão ainda fresquinhos: uma vez, Danilo, aos dois anos, folheava o álbum
de fotografias e encontrou uma em que estavam somente o pai e eu (grávida).
Questionou o porquê dele não estar conosco naquela foto. Eu respondi que ele
estava sim, porém na barriga porque ainda não tinha nascido. Ao ouvir isso, ele ficou muito revoltado e
amassou a foto dizendo que eu o havia engolido e ele não era comida. Ficou mais
bravo ainda quando viu as nossas gargalhadas as quais impediam uma explicação
plausível para ele.
Minha sogra, um dia, como autêntica avó
coruja, pegou no colo o netinho sapeca e disse a ele que estava com muita
vontade de dar um beijo naquele rostinho. Ele apontou para um chiqueiro de
porcos e respondeu que um dos porquinhos queria muito ganhar um beijo da avó. A
gargalhada foi geral. Para o Danilo, na sua inocência, não havia diferença
alguma entre os filhotes de bicho e os de gente.
Patrícia, uma adorável palhacinha cheia
de gracinhas e encenações. Até brava ela conseguia nos fazer rir. Quando pequena,
ao varrer a casa, se irritava com os papeizinhos que voltavam. Travava, então, uma discussão com a vassoura, com o vento, com
os móveis, com quem chegasse perto... Aquilo
era uma comédia para mim que ria escondida para que ela não visse, senão...
Para cada situação, tanto favorável como desfavorável, Patrícia criava
uma paródia acompanhada com coreografia e exibia seu espetáculo para quem
quisesse (Na verdade, esses shows continuam ainda hoje em exibição para os
amigos e familiares).
O alvo, certa vez, foi uma vizinha da minha
mãe que teve uma atitude de descaso em relação a minha filha e o Lucas (primo e parceiro nas paródias e
danças). A infeliz da mulher não queria que minha mãe levasse os netos à festa.
Como resposta, as crianças inventaram
uma música ridicularizando a mulher (destacando as bochechas dela) e o bolo (cheio de glacê). Cantaram e dançaram isso para nós. Muito criativos
e incrivelmente engraçadinhos esses dois pestinhas. Amei!!
Danilo e Patrícia, quando
adolescentes, ficavam em casa sozinhos durante o dia. Estudavam pela manhã e tinham
a tarde toda para inventar coisas. Eu e o pai chegávamos à noite e, de vez em
quando, éramos surpreendidos por vídeos
que eles montavam com diferentes performances: imitações(principalmente do Raul
Seixas), teatros de bonecos, shows, reportagens diversas, etc. Uma chuva de
risos e gargalhadas inundavam esses momentos. Deliciosamente inesquecíveis!!!
Não posso afirmar que a comédia se fez presente cem por cento em
nosso lar; por vezes, o drama também atuou e deixou marcas que serviram como experiências necessárias para o amadurecimento de cada um. Contudo, a nossa alegria e proximidade faz com que o riso supere o siso. Dessa forma, não abrimos mão da risada discreta nem da
gargalhada gostosa e barulhenta que tornam tão leves e significativos o
aprendizado para a vida!
(Zizi Cassemiro - Mãe dos
palhacinhos: Danilo e Patrícia; avó palhaça
do Gabriel e do Johnny)
Zizi, que lindo!!! Tantos festivais de risos, adorei a parte da igreja. Realmente uma delícia de texto! Cheio de simplicidade e carinho! São momentos inesquecíveis!!! Adorei o texto, você já sabe o que eu acho, textos super bem escritos! Sempre arrasa! E esse então, muito divertido! Como sempre em grande estilo! Amei!!!
ResponderExcluirObrigada, Maria José! Concordo com vc, as coisas simples estão cheias de graça. A risada e a gargalhada compôs muitos momentos que se tornaram inesquecíveis.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho e atenção em sempre deixar a sua graciosa marca nos comentários!