As traquinagens dos pequeninos já renderam páginas e páginas de relatos. Eu ficava imaginando como esses dois se portariam na escola quando chegasse o momento. Confesso que mil preocupações surgiam e faziam pouso em minha cabeça. Afinal, meus dois docinhos eram ligados no 220, principalmente o Danilo.
Como eu parei de trabalhar para
cuidar deles quando pequenos, não tinha pressa de mandá-los à escola. Pelo
menos pensava assim no começo. Se dependesse dos meus planos, eles iriam
somente aos 6 anos. Entretanto, as pessoas comentavam sobre a necessidade de as
crianças frequentarem a escolinha para a socialização e preparo da futura vida
escolar. Acabei concordando e providenciei o uniforme vermelho e os materiais
para o loirinho peralta quando ele completou 04 anos. Ele até gostou, porque, embora
tivesse que realizar algumas atividades, brincava bastante e se distraía com os
novos amiguinhos. Nesse primeiro momento correu tudo bem e não havia nenhuma
reclamação dele. Pelos vistos, o meu garoto era arteiro só em casa.
Nesta escola ele ficou até completar
a idade para ingressar no Pré 3, que representava uma antecipação para o primeiro
ano. Deu início, assim, ao Ensino
Fundamental 1 e 2 e, depois, ao Ensino Médio. Quando pensei que estava tudo sob controle, eu fui
chamada à escola porque ele havia levado de casa, sem permissão, um cadeado pequeno
e durante o intervalo, correu atrás das crianças querendo prender o objeto na
orelha de qualquer uma delas. Foi um alvoroço! Enquanto as crianças gritavam
desesperadas, ele se divertia e corria mais ainda.
No Ensino Fundamental, certa vez, a
professora pediu para as crianças contarem algum fato importante ocorrido em
casa e o Danilo fez uma redação descrevendo um dia em que o pai, cansado de ver
tantos brinquedos espalhados pela casa, disse que pisaria em todos eles e os
quebraria se eles não os recolhessem e guardasse no local certo. Ele descreveu
isso de uma forma tão dramática que a professora ficou impressionada e nos chamou para mostrar
a redação dele e pedir esclarecimentos sobre o provável nível de violência
daquela cena. De certa forma fomos considerados pais “carrascos”, lógico que
injustamente, pois o pai apenas tinha feito uma dramatização, um teatro e a
criança não tinha maturidade para perceber isso.
Outra vez, fui parar na escola por
conta do desentendimento do Danilo com alguns colegas, os quais montaram um grupo para dar uma surra nele. Eu
estava a caminho do trabalho e tive um mau pressentimento em relação a isso.
Segui meus instintos e desci do ônibus, como se soubesse o que iria acontecer.
Foi dito e feito. Eles esperavam lá fora para atacá-lo no horário da saída. Cheguei
a tempo, fui conversar sério com eles e evitei o pior. O que um bom discurso de
mãe não consegue?
A Patrícia, por sua vez, não quis saber se tinha ou não idade para ir à
escola. Quando percebeu que o irmão tinha aquele compromisso escolar diário e
trajava um uniforme com uma cor que ela adorava, pediu, encarecidamente, para
ser levada à escola também. Entretanto a pequena só tinha dois aninhos, era
muito cedo para iniciar os estudos. Todos os dias, ela chorava
inconsolada, pedi, exigia e fazia
campanha para ir à escola. Consegui segurar durante um tempo, mas depois decidi
ceder aos apelos da princesa (Afinal, é tão raro uma criança derramar tantas lágrimas por querer ir
à escola! Deixe que sacie sua sede do saber...).
Patrícia, uma criança que se sentia
adulta, ficou felicíssima e fez por merecer. Embora não abrisse mão dos
brinquedos e brincadeiras, AMAVA estudar e manteve essa postura durante a
pré-escola, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e o Superior. Aluna nota DEZ ,
com um senso crítico aguçado, sempre
atenta às explicações, não se calava
quando ouvia alguma informação distorcida ou falsa, era, portanto, o terror dos professores despreparados.
Um dia, em uma aula de literatura, a
professora explicou sobre “Dom Casmurro” na sala e fez um comentário pessoal
sobre Capitu. Patrícia não concordou e entrou em debate com a professora, pois
conhecia todos os detalhes da obra e era apaixonada pelo romance, assim como
eu.
Outra vez, soube que ela havia amassado e jogado no lixo uma
avaliação que recebera . Levou bronca, é lógico, porque jamais eu apoiaria tal atitude! Anos
depois, revelou-me que fizera aquilo porque o professor cometeu uma injustiça
com ela na sala de aula e sentiu-se humilhada diante dos colegas. Sua reação
foi uma consequência da falta de ética do professor.
Houve, também, uma ocasião em que a Patrícia foi orientada pela
professora a reagir agressivamente às provocações de uma coleguinha de sala.
Foi a única vez, que eu saiba, que ela bateu em alguém. Mesmo assim, eu não fui
comunicada, do fato porque a
professora foi sua cúmplice. Tempos
depois, soube pela própria Patrícia. Nem
fui investigar o acontecimento porque sempre acreditei na coerência das
palavras da minha filha.
Aprendi que somente em casa, os
filhos são prioridade; na escola as regras mudam um pouco porque são dezenas de
seres disputando o mesmo espaço e atenção e não há como garantir cem por cento
da aprendizagem. Aquilo é apenas um breve preparo do terreno durante uma fase
que dará sequência a outra, depois, outra; depois... Aplausos, as cortinas se abrem, entram
e, com maestria, exibem o diploma, nossos
queridos profissionais. Quanto orgulho!!
(Zizi Cassemiro – mãe do
engenheiro Danilo e da Geógrafa Patrícia; avó do Gabriel e do Johnny)
As traquinagens dos pequenos realmente rendem páginas, mas é tudo tão meigo, tão apropriado na idade deles né!?! Que lindo!! Adoro essas peraltices!!! Tão bom ter história pra contar!!!
ResponderExcluirAmei o episódio do cadeado e principalmente a criatividade da redação sobre a quebra dos brinquedos, impressionante ele ter pensado nisso! Que criativas são as crianças! A gente se impressiona com a capacidade delas! Amei o texto! Tudo lindo, perfeitinho, e como sempre, a escrita impecável!! Amei!!!