Tudo começa com um “sim”. E dessa junção de seres, outros
contextos se formam recheados de novos integrantes com suas peculiaridades. Nem
fazemos ideia do que nos aguarda... Se
estamos ou não preparados para os imprevistos decorrentes das aventuras
maternas, como saber sem experimentá-las? Então, aceitamos o desafio.
Para quem já caiu da ponte em um rio enquanto pedalava uma
bicicleta; despencou de uma árvore ao tentar saborear uma fruta amadurecida no
pé; não conseguiu galopar e caiu do cavalo; ficou presa na porta do ônibus
porque o motorista a fechou com antecedência; tomou um banho de lama ao cair da
moto com o namorado; saiu apressada para o trabalho e nem reparou que a roupa
estava do lado avesso; percebeu que fora
roubada no ônibus no momento de pagar a passagem; foi passar a roupa para a
futura sogra e queimou algumas peças; virou piada na família depois do infeliz
comentário que fez ao ver, pela primeira vez,
um pé de jabuticaba: ”Nossa, jabuticaba dá no
pau”!!...etc...etc...etc Não seria tão
difícil encarar mais emoções envolvendo novas criaturinhas que, a seu
tempo, certamente chegariam.
Depois da troca de alianças no altar e as comemorações
posteriores, passei de menina à mulher e fui fazer jus às promessas proferidas
naquele 31 de julho de 1982. Em poucos anos, as palavras “crescei-vos e
multiplicai-vos” ganharam significado em casa na forma duas bênçãos: Danilo e
Patrícia.
Ele: inteligente, esperto, inquieto, curioso, traquina,
andou aos nove meses e antes de completar um ano já falava feito uma matraca.
Um projetinho ligado nos 220 v. que pôs um ponto final no meu sossego! Não
podia tirar os olhos desta criatura tão dinamicamente minha. Devido ao seu
gênio docemente indomável, alguns micos tornaram-se inevitáveis e ao mesmo
tempo previsíveis; cabia a mim ou ao pai, arcar com as explicações.
Um deles ocorreu na igreja, durante a cerimônia da missa.
Enquanto o padre discursava e os fiéis o ouviam, meu filho o observava, e de
repente saiu em direção ao altar, sem
aviso prévio. Parando em frente ao vigário, abaixou-se e ergueu a batina deste.
Provavelmente ficara intrigado com o uso daquela vestimenta típica e quis
verificar o que havia por baixo dela. Desconcerto geral na cerimônia, não havia
quem não risse. O que poderíamos fazer para reverter o vexame? Nada! Só
desculpas balbuciadas e recolher o menino ao colo.
Dali a quase dois anos chega ela: a pequena notável
demonstrando desde já suas peripécias e habilidades. Esta, além de elencar as
mesmas qualidades do irmão formando um par perfeito (para a minha alegria),
acrescentou uns detalhes que me deixaram fora de órbita: não tinha trava na
língua e colocou-me em saias justas diversas vezes. Dizia sempre o que pensava,
doesse a quem doesse. Em alguns momentos, ela também expressava seus dotes
artísticos: desenhava as pessoas e as presenteava. Tais ilustrações eram ricas em detalhes naturais,
ou seja, nuas. Faltavam-me as palavras para justificar sua originalidade.
Tão articulada era
essa menina que, na escola, quando escrevia textos, as professoras se recusavam a
aceitá-los alegando que tinha sido feitos por mim, por conter ideias muito
maduras para a idade dela. Como eu iria provar que a pequena era
autossuficiente? Só eu sabia que sim.
Certa vez, na mesma igreja em que o Danilo erguera a batina
do padre, estávamos lá novamente em uma cerimônia de Primeira Comunhão da
Patrícia. O padre fez o seu discurso em homenagem aos participantes daquele
ritual religioso e, dirigindo-se às crianças, perguntou se alguma delas
gostaria que sua mãe, representando as demais,
viesse à frente e proferisse uma mensagem. Estavam presentes diversas
crianças, porém, de onde eu estava, escutei uma vozinha familiar dizendo: “EU”.
Perante uma igreja lotada, seria indelicado recusar um pedido desse. Trêmula e
gelada pelo imprevisto, respirei fundo e fui, nem me lembro do que disse. Vítima
da boa intenção e inocência de minha filha, paguei o maior mico, pois sou tímida.
Embora ficasse desestabilizada com as situações embaraçosas
que meus rebentos me preparavam, eu
amava aquelas traquinagens e me divertia junto. Entretanto, o tempo vai estendendo, apressadamente, seu tapete cronológico sem pedir licença e insere
aqueles pedacinhos da gente no mundo adulto. Se precisasse, eu faria tudo
novamente. Valeu a pena cada mico!
(Zizi
Cassemiro - mãe do Danilo e da Patrícia)
Texto, como sempre, maravilhoso e cheio não só de emoção, mas de verdade e de orgulho! E também de risos! Sim, porque morri de rir imaginando a cena do seu filho levantando a batina do padre! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk E senti a maior vontade de ver um dos desenhos da Patrícia! Você não guardou nenhum? Não creio! rs rs rs
ResponderExcluirEu, apesar de a maioria não me achar tímida, eu sou, muito, e odeio falar em público, fora da sala de aula, meu território! Imagino o seu pavor na hora, ainda mais pra uma igreja cheia e com pessoas desconhecidas! Só por filhos que a gente ousa enfrentar esse tipo de situação... e encara esses micos...
Um beijo grande, amiga, e obrigada por compartilhar conosco essas suas deliciosas lembranças! Adoro!
Sempre gentil nos comentários, obrigada. O Danilo aprontou muito quando era pequeno...sempre me lembro das traquinagens desse peralta e fico rindo sozinha. Ele adulto é muito diferente, ficou mais sério, até demais, A Paty amadureceu e aprendeu mais a não falar o que não deve, mas dependendo do assunto ela solta o verbo e ninguém segura, mas ela é muito carinhosa e fofa. Não deu para guardar os desenhos porque ela os dava para as pessoas e eu ficava morrendo de vergonha. O mico que paguei na frente diante do pessoal na igreja eu coloquei a foto...olha a cara de assustada que eu estava, foi cruel o que a pequena fez comigo kkkk
ExcluirEu que agradeço! Seus textos me encantam! E dizem mesmo que o comportamento dos filhos mudam, né? Miguel tem um primo que falam que era um pestinha quando criança, e hoje é um moço super tranquilo e responsável. Eu não sei porque já o conheci assim, na fase calma e fofa! (risos)
ExcluirEu acho Miguel levado, mas bem mais tranquilo do que eu fui na idade dele! O que o trava mais é porque puxou meio medroso ao pai. Minha salvação, acho. rs rs rs
Que legal que ela dava os desenhos, todos, para as pessoas. Miguel é meio assim, com desenhos e com as telas que já pintou. Só consegui segurar uma, mesmo assim porque ele pintou pra mim. Minha sorte! rs rs rs
Ahhhh que nada... na foto parece estar super à vontade com o microfone... disfarçou super bem, amiga! Beijos mil.
Zizi, estou aqui imaginando a manchete do jornal " Menino levanta a batina do padre durante a missa" kkkkkk Deve ter sido muito engraçado kkk
ResponderExcluirDanilo sempre encontrava um jeito de aprontar algo novo...essa da batina pegou todo mundo de surpresa. Imagina a minha vergonha, embora eu estivesse rindo por dentro kkk
ExcluirZizi, você é maravilhosa! Deveria escrever e publicar livros! Texto riquíssimo e encantador, apesar dos micos kkkkk confesso que enquanto lia e ia imaginando cada situação rsrsrs
ResponderExcluirHenrique perguntou do que eu estava rindo da
Adorei!
Simone, nossa! Agora fui às alturas! Já pensou que legal se publicássemos um livro contendo nossas histórias aos nossos filhos? Eu já pensei em fazer isso, nem que sejam somente três exemplares:um para mim, outro para o Danilo e um para a Patrícia. Obrigada pelas palavras de apoio e carinhosas.
ExcluirDequinha, é bom você já ir montado o histórico do Miguel porque ele ainda é criança e as memórias estão fresquinhas. Eu tenho que lembrar de fatos de trinta e poucos anos atrás e tenho certeza de que alguns estão perdidos esperando serem lembrados. Mesmo assim há muitas para contar ainda e os temas do blog atté ajudam a resgatá-los kkkkk.
ResponderExcluirPois é, amiga, ainda estou em vantagem com relação a você!!! Mas também em graaaaaaaaande desvantagem com relação à quantidade de histórias para contar, por enquanto e com uma só cria!!! Rs rs rs
ExcluirIndependente do blog, vou aqui tecendo meus textos, minhas memórias miguelísticas... rs rs rs
Zizi, concordo com Simone. Você é uma excelente contadora de histórias. Fico encantada lendo seus textos. E adorei os micos ! Principalmente do seu filho. kkkkkkkk bjks
ResponderExcluirQue texto delicioso de ler!!! Incríveis todos os seus textos!! Parabéns pela facilidade que tem em contar as histórias!! Adorei!!!
ResponderExcluirObrigada pelos comentários tão gentis Cristina e Maria José. Eu fico resgatando as memórias para que não me faltem histórias, pois os meus pequenos pintaram e bordaram (no bom sentido) e agora tenho os netinhos para me adoçar..
ResponderExcluirQue lindo!! E não são essas as melhores lembranças?? Pena que o tempo passa realmente rápido e eles perdem essa ingenuidade natural que só as crianças têm.
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