Ahhh, o mar!!
Tão imenso, desafiador, poderoso, imponente, assustador, forte, mágico, complexo,
fascinante, inspirador... Conhecê-lo, é
mais que uma aventura, é a concretização de uma expectativa construída a partir
dos primeiros anos da infância. As imagens vistas nos livros, revistas,
jornais ou televisão, já despertam um desejo de conhecê-lo e de caminhar na
areia sentindo as pequenas ondas roçando nos pés, e depois, entregar-se, sem resistência, ao
mergulho naquela vastidão de água salgada.
Nos esboços imaginários tudo parece
exato e perfeito. É como estar diante de uma receita de guloseima e não ver a
hora de prepará-la, para depois de
pronta, saborear, tranquilamente, cada
bocado ou fatia, sentindo o gostinho do
infinito...
Chega, enfim, o dia em que os
ensaios fantasiosos tornam-se experiências reais e memoráveis. Principalmente
quando essas idas aconteceram poucas vezes. Conheci a praia e o mar na
adolescência, em uma daquelas excursões de bairro que aconteciam todos os anos,
especialmente no período das férias escolares. Amei!
Na segunda vez, aos 22 anos, já era casada e mãe do Danilo.
Queria apresentar a esse inquietíssimo menininho loiro, a grande água, pois até então só conhecia o precioso
líquido que jorrava da torneira,
chuveiro, ou mangueira e caía em uma pequena piscina particular conhecida como
banheira em sua casa. Ele precisava saber que aquilo tudo representava uma gotinha, se
comparada à imensidão azul que desliza suavemente sobre as areias da praia.
Danilo era bebê, tinha menos de um
aninho de idade, brincou e se divertiu um pouco na água e na areia, muito bem acompanhado e monitorado por mim,
pelo pai, avó, avô, tia, primas... Acho que ele até pensou em dar um perdido em
nós, mas ainda não tinha dominado a arte da Fuga. Cada proeza tem seu momento.
Naquele, por exemplo, a aventura se limitava a mexer na água e na areia e pular,
de mãos dadas, com as pessoas da família.
Alguns anos depois voltamos à praia
e, desta vez, tínhamos mais uma bênção para cuidar: a
Patrícia. Eu sabia como seria complicado
olhar duas crianças na faixa etária dos quatro aos seis anos, por isso acionei
o alerta em todos da família.
Danilo, reafirmando sua boa
disposição para os desafios, explorou sua energia
o quanto pode: corria pela areia, corria para o mar, queria nadar no fundo, queria
surfar (compramos uma pequena prancha para ele brincar) Haja braços, pernas,
gritos para acompanhar sua adrenalina. Fugia do protetor solar, fugia de nós...teimoso
elevado a mil.
Patrícia, por sua vez, teve um
comportamento inverso ao do irmão. Aceitou usar a roupa de praia, posou para as
fotos, deixou passar protetor solar, mas
não quis saber de mergulhar na água salgada.
Limitou-se a molhar os pés na beira da praia e quando a onda vinha, ela corria para fora da água. Tinha medo das
ondas, essa minha “peixinha” tinha pavor das águas grandes (Pelo menos não deu
trabalho algum, enquanto o irmão monopolizou os olhares atentos de todos nós...)
No final deu (quase) tudo certo: o
passeio foi um sucesso, todos amaram e se divertiram, na medida do possível. A inconveniência
que houve foi a exposição excessiva do Danilo ao sol pelo fato de não ter
deixado repassar o protetor solar. Sua
pele é bem clara e avermelhou muito, inclusive suas orelhas chegaram a inchar.
Só assim, aceitou cremes e pomadas que
aliviaram o incômodo das queimaduras solares. O mal estar passou, entretanto as
marcas viraram pintinhas e ficaram registradas em suas costas para sempre.
Patrícia, depois de adulta, revelou-me o porquê do seu receio com a água
do mar. Contou que ouvira da avó, alguns dias antes do passeio à praia, uma
história na qual uma pessoa conhecida quase fora levada pela força das águas do
mar. E complementando tal relato, a d. Geraldina fez advertências aos riscos
que o mar oferece dizendo que “ o mar tinha prometido a Deus que iria afogar os
melhores nadadores e o Senhor não concordando, propôs um acordo no qual as
pessoas deveriam ter três chances para se salvarem. Por isso que quando alguém
está se afogando, ela afunda e emerge três vezes”. Segundo a Patrícia, a avó
falou isso com tanta convicção que convenceu a minha filha a, praticamente, não se aproximar do mar. Ela entrou em pânico.
Essa “orientação” foi tão forte que até
hoje há resquícios: quando ela vai à
praia, evita entrar com água além das canelas, as palavras da avó ainda sopram em
seus ouvidos e causam efeito, mesmo depois de 26 anos.
Aventuras e riscos, abusos e medos, divertimentos
e preocupações... Experiências válidas
dos inesquecíveis passeios no litoral que renderam: nutridos relatos, saudosas
lembranças, registros em fotos, sabor de
quero mais...
(Zizi Cassemiro – mãe do Danilo e da
Patrícia; avó do Gabriel e do Johnny)