O desejo de ser mãe está vinculado às cenas doces como: brincar com o filho, alimentá-lo, passear,
correr, ensinar-lhe os primeiros passos e as primeiras palavras, acompanhá-lo à
escola, lidar com as traquinagens, ajudá-lo a descobrir o mundo e tantos outros
momentos únicos que permanecem em nossa memória, pois cada uma dessas fases é singular e marcante.
Entretanto, os enredos das narrativas
maternas são compostos de capítulos diversificados e, entre eles, as lágrimas
ou a angústia tiveram seu papel garantido, sobretudo naqueles momentos difíceis
em que temos que transformar “tripas em coração”. É nesta hora que desejamos
trocar de lugar com eles para evitar que sofram (ahh, se isso fosse
possível!!). Os exames são necessários, as picadas doem, mas garantem a saúde da
criança; isso é óbvio e inquestionável.
Mesmo certa de tudo isso, como é
difícil para uma mãe acompanhar as primeiras vacinas, as injeções, a ida ao
dentista, os exames de sangue, os soros, as internações, as possíveis cirurgias... O mundo desaba para
ela. Mesmo aquelas, aparentemente fortes e corajosas, escondem (necessariamente) um desespero
misturado com insegurança, porque sabem que não tem com quem contar nessas
horas e não há como fugir.
Como mãe, também experimentei tais
fases as quais renderam episódios ora hilários, ora dramáticos. Conheci a
maternidade na década de 80. Nessa época não se faziam os famosos testes do
pezinho. As crianças nasciam, ficavam no berçário e eram levadas aos quartos das
mamães para serem alimentadas, depois retornavam ao cantinho coletivo de
bebês. Só havia algum procedimento
doloroso se surgissem problemas de saúde que precisavam ser tratados.
A efetiva jornada materna inicia-se
em casa. O medo já começa no primeiro banho. O receio de derrubar ou machucar aquela
coisinha tão frágil, meu Deus!! A madrinha do Danilo fez questão de dar o
primeiro banho nele; depois, ficou por minha conta segurar, banhar e limpar
aquele serzinho de 2,500 kg. Como fazia parte do pacote tais funções, enfrentei os desafios. Na segunda vez como
mãe, mais segura pela experiência que já tinha, encarei, mais confiante, a
Miúda de 2,300 kg. Descobri, então, que Deus não olha só as crianças, mas as
mães, para que estas possam, com garantia, dar sequência ao ilustre ofício a elas
determinado.
Mesmo assim, algumas falhas, não pude evitar: Danilo caiu da cama quando
bebê e esse foi um dos primeiros sustos. Depois, outro maior: nos primeiros
meses, ele chorava muito devido às dores de barriga e eu passava o ferro quente
em uma fralda e a colocava sobre sua barriguinha para amenizar as dores. Em uma
dessas ocasiões, o ferro quente escorregou e caiu na perninha dele, fez uma
cicatriz de queimadura. Tanto o tombo quanto a queimadura me fizeram sentir uma
ÍNÚTIL e INCOMPETENTE, a pior mãe do mundo!!
A Patrícia sofreu menos nesse
sentido porque já tinha uma mãe mais esperta e experiente. A única e grande
preocupação na fase infantil foi seu pouco peso. Era muito magrinha, demorava
em ganhar algumas gramas, e isso me preocupava demais. Recorria a médicos desesperada e eles não davam
nenhuma importância ao fato, pois, segundo eles, a menina era saudável e aquele
era seu metabolismo.
Meus filhos, quando crianças e
adolescentes nunca ficaram internados, nem tiveram nenhum osso do corpo quebrado. O vilão
da história foi a Benzetacil que, infelizmente, era um dos antibióticos mais
receitados naquela época. Sempre que alguém aparecia com qualquer tipo de
infecção ou febre, “Benzetacil nele”! A garganta das minhas crianças
inflamava com facilidade e, sabendo qual remédio seria indicado pelo médico,
eles entravam em pânico, pois conheciam
o sabor doloroso e inigualável daquela picada
cruel e insensível.
O Danilo, na hora da medicação, fugia, driblava as atendentes, escapava dali,
escorregava daqui. Precisava de uma “galera” para pegá-lo e segurá-lo. Eu
passava a maior vergonha porque ele, além do papelão que fazia, ainda xingava
as atendentes, gritava que elas estavam loucas, que queriam matá-lo, etc... A primeira
vez que a Patrícia assistiu a cena de desespero do Danilo, ela ficou tão assustada
com aquilo que ajoelhou-se ao chão e com as mãos postas, pediu “pelo amor de
Deus, não matem meu irmãozinho!”.
A Patrícia, depois que foi
apresentada à famosa injeção em uma crise de amidalite, também ficou em alerta.
Todavia, não utilizou as estratégias escandalosas do irmão. Na sala do médico,
quando ouviu que iria tomar aquela
injeção dolorida, começou a chorar e pediu ao médico que trocasse o remédio
porque ela iria sofrer muito. Falou com
tanto jeitinho que comoveu o doutor. A pedido dele, foi incluído no conteúdo da injeção uma dose
de Xilocaína para anestesiar o local. Quando sentiu a diferença, ela adorou e, desse dia em diante, toda vez que ia ao
médico, fazia a mesma solicitação e seu
pedido era atendido.
Os momentos das injeções, vacinas,
exames de sangue eram uma mistura desigual de humor e drama. Eu tinha que acompanhá-los
e controlá-los, mas por dentro eu estava apavorada porque as agulhas (até hoje)
me aterrorizam e eu não podia deixar que percebessem essa minha fraqueza. Eu
simplesmente segurava-os firmemente e virava o rosto, fechando os olhos,
pensando “vai acabar logo, vai acabar logo”. Sou daquelas que morre de medo, mas encaro se
precisar, só para não delegar minhas funções a outrem.
Hoje, a infância e a adolescência
deles retomam a pauta por meio dos relatos ou nas fotografias e rendem muitas risadas
com gostinho de saudades. Eles cresceram e superaram o medo das agulhas. Quanto
a mim... Não aprendi ainda a lidar com machucados, fraturas, cirurgias ou quaisquer
procedimentos similares. Dói mais em mim...
(Zizi Cassemiro - Mãe do Danilo e da Patrícia; avó do Gabriel e
do Johnny)