Os primeiros contatos imediatos dos meus peitos com a boquinha da Talita estarão para sempre na minha memória! Dois dias após seu nascimento, registrei no meu caderninho: “Ontem foi um dia muito complicado. Doía tudo, não tinha posição pra sentar, nem deitar nem ficar em pé. Cheíssima de puns, sem fome, horrivelzinha, tadinha de mim! A Talita, coitada, nem experimentou direito o meu colinho, só o do travesseiro, para mamar. O mamá esquerdo rachou, ela chorava, eu também, a mãe [minha] nervosa, um terremoto só!” A boquinha era tão minúscula, que só pegava o bico do peito, com consequências dolorosas. Cada mamada era um suplício, quando ela abocanhava meu bico, eu tinha de segurar um grito de dor. Aos poucos, no decorrer da mamada, eu ia relaxando, ou o bico ficava anestesiado, sei lá, e eu curtia ela esmagando meu peito com aquelas mãozinha gorduchas ( eu me lembrava dos cachorrinhos novos, com aquelas patinhas cor-de-rosa, empurrando as tetinhas da mãe deles! )
A gente ouvia lá do quarto aquele “aaah” de fome, eu corria pra tirar aquela salada de frutas em que tinha se transformado meu sutiã, cheio de cascas de mamão e banana ( cicatrizantes, dizem), lavava os peitões e me preparava para o nhac da menininha da Claybon. Minha mãe levava pra mim aquele embrulhinho cheiroso que chupava os dedos. Demorava um tempããão pra arrotar, cochilava na troca de peito, o Mô e a mãe se alternavam pra apressar aquele arroto que nunca vinha, e eu dormia nos intervalos. Era um ritual pra lá de estressante...
Quando fui tirar os pontos da cesárea, só consegui deixar um pingo de leite (uma colherinha de chá...) tirado com aquela bombinha manual assassina do bom humor. Na volta, encontramos a Talitinha comendo as mãozinhas e minha mãe desesperada com o desespero dela.
Somado a isso, eu estava tomando o remédio da diabete, que passava pelo leite e às vezes dava queda de glicose nela (uma vez passou 9 horas dormindo direto, só respirava e fazia cocô) . Não por acaso, acho eu, meu leite químico sumiu na mamada da noite de 11/10, e o Mô foi voando pra rua catar um leite pra ela. Aí, entraram as alergias, que ficam pra outro dia. Terminou ali a minha curta carreira ( 1 mês de altos e muito baixos) de amamentadora da Tatá.
O Tariq parecia um bezerrinho faminto, tinha um bocão afoito, que engolia bico, auréola e ainda mais. Mamava sem parar, no início a cada 1:30h, eu ficava que nem um zumbi de madrugada! Quando ficou maiorzinho, dava cada mordida com aquelas gengivas, que eu tinha de sacudi-lo só um pouquinho, “para que tivesse modos à mesa...” Mamou até quase os 10 meses, quando tive de voltar totalmente ao trabalho (a licença-amamentação da prefeitura dura mais que a do particular) e começou a sua intolerância à lactose.
Meu obstetra, aquele iluminado, me ensinou uma posição muito confortável para amamentar, com o Tariq em cima de dois travesseiros, embaixo do meu sovac... er, da minha axila (ô palavrinha feia), de frente para o peito. Gente, uma maravilha!! De frente pra mim, então eu ficava com as duas mãos livres pra fazer carinho nele ou para comer, para ler... Não me dava dor nas costas, tenho uma escoliose que incomodava muito nas mamadas da Tatá. Era uma diversão, apesar de que, exatamente nesses momentos é que a Talitinha resolvia aprontar todas, e o pobre volta e meia dava um pulo com meus berros pra que ela sossegasse.
Experiências únicas, momentos inesquecíveis, cada um com sua particularidade e emoção, claro, além de intensos aprendizados de maternidade, pois a gente não nasce mãe... Acho que o curso intensivo é mesmo durante os primeiros anos, imersão total. Depois a gente vai dividindo nossos filhos com o mundo, né, vai aprendendo a viver e a deixar viver, assim, meio de longe... Eternas expectadoras que somos, tornamo-nos, aos poucos, também espectadoras, torcendo para que “tudo dê certo”.
Foi uma semana muito rica essa aqui no blog!
(Else Portilho)