sábado, 11 de junho de 2011

Brinco ou não brinco?


Eis-me aqui  tentando transportar-me há alguns anos,  num improvisado  túnel do tempo e, dessa forma,  resgatar pontos marcantes da minha trajetória  de  MÃE : produto final de criança, menina,  moça e mulher.
Estamos em 1984, acabou o faz-de-conta, agora o enredo é real. Há um novo ser formando-se e  desenvolvendo-se  dentro de mim. Meu corpo é seu corpo, sua morada, seu habitat por tempo determinado.
Conceber uma vida, é antes de tudo, uma permissão divina. Um embrulho precioso nos é confiado. Nossa função: carregá-lo, protegê-lo, orientá-lo, formá-lo  para que depois,  possa caminhar por si mesmo e bemmm.
Do lado de fora,  ansiedade, curiosidade, expectativa transbordam nos corações a mil por hora. Todos, inclusive EU, queremos saber como está  e quem é:  ele ou ela?  Simpatias tentam decifrar este enigma:  são corações de frango na panela,  olhar as unhas, colher e garfo embaixo do travesseiro, formato da barriga, dentre outros.  Entretanto a dúvida continua...
Apostamos, então,  na intuição (materna e paterna) e o resultado é dúbio: o Marcos, pai fresco, todo pomposo afirma que “É homem” e ainda acrescenta que “Sei  muito bem o que eu fiz” ;  eu  discordo: “É mulher” e já vou fazendo planos : ”Logo que nascer, vou colocar brincos na princesa ”
Veja só  a minha pretensão: eu já tinha 22 anos e nunca havia furado as orelhas e, no entanto, minha menina  não teria a chance de decidir , eu já havia feito isso por ela antes mesmo da sua chegada!  Eu via as crianças das outras mães  todas enfeitadinhas e com brinco,  e ficava sonhando quando chegaria a minha vez.
Enquanto isso, silencioso e incansavelmente o relógio trabalhava tic-tac, tic-tac, tic-tac e  a contagem regressiva começava...
Chegou, enfim, o tão esperado dia e a resposta a todas as dúvidas seriam plenamente sanadas.   Tudo pronto para comemorar a chegada  de  mais uma integrante ao clube da Luluzinha.  SIM, pois eu só tenho irmãs (3), até aquele momento só haviam nascido sobrinhas (4)  E então? Comprar ou não o brinco?
Em 12/05/1984, num sábado que antecedia o Dia das Mães,  um grito de guerra em forma de choro explodiu, anunciando sua chegada em solo desconhecido e exibindo, em primeira mão,  seu principal documento de identificação: um BRINCO que já fazia parte do kit, instalado no local adequado e com funções definidas, contrariando, assim, os palpites alheios, hehe!
Um garotão, frágil  na aparência(2,5 kg)  e sapeca nas atitudes: o pequeno rebento,  na mesinha em que fora colocado para os primeiros cuidados, segurava a tesoura do médico, agitando-a de um lado para outro. Eu fiquei surpresa, nunca vi criança fazer aquilo. Gritei “Cuidado, ele vai se machucar”.  Eu deduzi na hora que aquela era apenas a primeira de muitas artes que viriam...
E o brinco?  Bem... para não nos deixar tão decepcionadas assim, em uma das orelhas do Danilo (Esse  foi o nome escolhido para o adorável danadinho rss) havia um sinal semelhante a um furo de brinco, que perdura até hoje. Acreditam? Pois é a pura verdade!!
E a princesa?  Bem... ela veio  SIM,  dois anos depois e blá...blá...blá...blá...blá...
(Continua qualquer dia desses....)
( Por Zizi - mãe do Danilo  e da Patrícia)

12 comentários:

  1. Amei o seu texto, amiga, principalmente o início, a brincadeira de sentidos que faz já no título... que brinco aparentemente é verbo e depois descobrimos que se trata do substantivo... Uma delícia! Mas eu sou suspeita para falar sobre vc e sobre seus escritos... adoro todos eles... pois todos têm sentimentos transbordando e contagiando a gente!!!

    Adorei conhecer um pouco mais da sua historia... e estou curiosa para saber como foi a chegada da menininha, oras! Pode postar hoje mesmo, se quiser, a segunda parte, se não vai que um dia ela chega aqui e fica enciumada! Olha só que problemão! rs rs rs

    Beijos e que bom ter vc aqui fazendo parte deste time!!!

    ResponderExcluir
  2. Zizi, Parabéns pelo seu lindo texto! História emocionante!! Coisas que acontecem realmente na vida de muitas pessoas, mas a gente percebe que nisso tudo o que prevalece é o amor por eles, um amor tão lindo, tão sublime!!

    ResponderExcluir
  3. Zi...Adorei o texto essa parte da tesoura eu não lembrava...parabéns...jinhos

    ResponderExcluir
  4. Que post perfeito, Zizi! Assim como a Dequinha, gostei do duplo sentido no título. E achei bem divertido!

    ResponderExcluir
  5. Comentário da minha filha: PATRÍCIA, enviada por email.

    Oi Tata

    Como sempre minha mãe, que orgulho, sempre se supera!!! Apenas a tata põe pra fora toda a beleza e, a simplicidade do seu ser. É claro, pois escrever bem num é reunir palavras numa semântica ou numa gramática, mas sim, escrever bem é conseguir unir num conjunto, todas as palvras que consiga expressar um sentimento, e vc faz isso, pois antes de mais nada vc é bela por dentro, e usa das palavras simples e consegue tocar o fundo da nossa alma, assim como suas ações são simples e muiiiiito sábias, não precisa se provar, vc é e tem a humildade de não saber, escreveu tão lindo, e a bichinha nem se tocou como escreveu lindo, eita essa bichinha vê longe!!!!! E lém disso ainda consegue colocar melodia e sabedoria
    A tata descobriu o que é ser criança, mulher e hoje vó, é a tríade da vida: Mãe, Filho e Neto - Pai, filho e espírito santo. Ainda tenho muito que percorrer, mas com os exemplos de mulher que tive em minha vida não tem como errar. Tenho sorte de ter nascido e ter minha mãe como mãe

    ResponderExcluir
  6. Dequinha, Maria,Kattyllene, Clécia, Paty: Obrigada pelos comentários carinhosos e incentivadores pois assim eu me animo para continuar, hehe!!
    Dequinha, eu preciso de um outro tempo para escrever outro texto, sou lentinha da Silva. Logo vocês saberão pormenores sobre minha princesa esperada.
    Maria, você tem razão: o amor que permance, alimenta esse elo familiar todos os dias e isso não dá para disfarçar.
    Kattyllene, a história da tesoura eu já contei algumas vezes...mas como contei tb outras histórias, esse detalhe deve ter passado.
    Clécia, que bom que gostou, foi proposital a palavra brinco, pensei na ideia do trocadilho e gostei, relacionando-o ao fato, pois foi exatamente isso que aconteceu, ou seja, o menino tem um brinco sim, mas não nas orelhas kkkk Na verdade o sentido de "brinco" ficou triplo: brinco(verbo) brinco(acessório) brinco(sentido figurado).
    Paty, só de existir você já me encanta e emociona, filha...todas as suas palavras me fazem chorar, mas sempre de alegria ou emoção positiva.

    ResponderExcluir
  7. Zizi,
    Adorei o texto! E o que a sua filha escreveu também. Emocionante, eu diria. Vc não chorou não, mulher? Vixe!Tô até agora com os olhos cheios de lágrimas. Deus abençoe sua família.

    ResponderExcluir
  8. Dani....foi uma chuva nos olhos do lado de lá e de cá...Quando eu li a resposta dela no email eu chorei e resolvi trazer aqui para o blog.Ela tb chorou quando leu o meu texto. Eu vou escrever sobre ela tb. Só estou esperando o tema e o meu dia.

    ResponderExcluir
  9. Zizi....adorei essa parte "um grito de guerra em forma de choro explodiu, anunciando sua chegada em solo desconhecido e exibindo, em primeira mão, seu principal documento de identificação: um BRINCO que já fazia parte do kit, instalado no local adequado e com funções definidas"...ehehehe
    E como a Deca disse, foi muito legal essa brincadeira que fez com a palavra "brinco".

    Bjooo

    ResponderExcluir
  10. Simone, eu aproveitei os vários sentidos que a palavra "brinco" oferece e em cima disso montei o texto oscilando entre o sentido denotativo e o conotativo. Gosto de brincar com as palavras, mesmo que tenha que falar de um assunto sério. Poucos temas fogem a essa característica nos meus escritos. obr. Bjoss

    ResponderExcluir
  11. hahaha....Oras, era só furar uma das orelhas do menino mesmo!
    Talita Filha Da Else

    ResponderExcluir

O que lhe veio à mente depois de ler este texto?!? Queremos muito saber!!! Comente!!! Obrigada!!!