domingo, 26 de junho de 2011

Ufa, nasceram!!!

Passei  a gravidez toda de molho na cama, porque tive ameaça de aborto e, depois, de parto prematuro. E passei a noite de  2 de setembro de 97 no vaso, fazendo fotossíntese... Era o que parecia, porque a toda hora eu expelia (ô verbinho feio!) um líquido verde, que nem clorofila mesmo. De 5 em 5 minutos minha barriga se retorcia, endurecia e eu nem me intimidava, gritava de verdade.

Assim que amanheceu, confirmamos que havia algo errado: eu conseguia enxergar minhas próprias bochechas, de tão inchadas, e meus pezinhos de elefante nem entravam nos chinelos! Ligamos para o obstetra, que mandou a gente ir pra lá na mesma hora, que ele ia abrir o consultório. Lembro-me da dificuldade que foi pra descer as escadas e andar até o carro, o corpo, desgovernado, não obedecia, eu parecia uma mistura de siri com pata, andando de lado, em câmera lenta.

Chegando lá, minha pressão estava 17 x 10 e o coraçãozinho da Talita disparado, 170 por minuto, então ele decidiu fazer a cesárea naquele dia mesmo, com 36 semanas.  Parece incrível, mas a minha maior preocupação naquele momento foi  “mas esse dia é muito feio, só tem 1 algarismo, eu queria que ela nascesse na primavera...”  Como a previsão dos 9 meses era para outubro, eu tinha ficado cismada com a primavera, hehehe! E o obstetra, uma pessoa fantástica, muito espiritualizada, me consolou assim “Filha, a partir de hoje, o dia 2 de setembro vai ser o dia mais lindo da sua vida!” Ele me passou tanta segurança, que eu nem me preocupei e achei um exagero que o Mô e minha mãe ficassem tão desesperados. É que eles já sabiam que era pré-eclâmpsia, eu só soube depois do parto.

Foi só passar em casa, pegar as malas e voarmos pra maternidade, levados pelo meu irmão. Meu pai despencou de Araruama, minha sogra disparou a chorar e eu a tremer, vendo aquele show todo, de gente espetaculosa. Aliás, tremer  foi o que eu fiz de melhor, meus dentes batiam tanto que ficaram doloridos dias seguidos! Mal consegui vestir aquela roupa verde fashion. Chorei muito vendo a minha mãe ficando pra trás enquanto eu me afastava naquela maca barulhenta. Na hora H gritei bastante também, chorei, berrei que estavam me sacudindo, me chacoalhando, que parecia que estavam sovando massa de pão, kkkkk!!!! (Vocês não tiveram essa impressão não?!) Ah, e o Mô ficou o tempo todo me fazendo cafuné!!! Imaginem se não tivesse ficado, o estrago que eu teria feito nas orelhas dos médicos...

Depois que a pressão subiu mais um pouco, conseguiram finalmente livrar a Talita daquela batedeira, botaram aquela minusculeza de neném  em cima de mim, apertei o narizinho dela e me apagaram. Quando acordei, no quarto, tinha um povaréu danado lá, uma barulhada absurda,  e eu, zonza com a anestesia, ficava pedindo pra pararem com aquela gritaria, mas NINGUÉM me dava atenção! (O Mô diz que tudo foi coisa da minha cabeça, alucinação de anestesia, que não teve nadica daquilo, mas teve sim, acho que ele só quer é defender a família dele, hehehe!)

No dia seguinte, acordei com uma coceira inacreditável  no couro cabeludo, nos braços e nas pernas, reação à anestesia. Cheíssima de puns, o quarto entupido de visitas, nem podia me aliviar... Não tinha posição pra sentar, nem deitar, a enfermeira me arrancou da cama pra tomar banho, espremeu o bico do meu peito como se fosse um furúnculo “pro leite chegar” e eu desejei dar um soco nela, vejam como fui molestada!   Mais tarde eu já passeava de braço dado com o Mô pelo corredor, com uma pantufa enooorme, onde meus pés paquidérmicos entravam.

O Tariq, 4 anos depois, enrolou o pescoço no cordão umbilical, já estava muito crescidinho para “apenas” 36 semanas e passou a dar cabeçadas naquele osso lá de baixo. Tudo isso em 3 dias!! Por estes fortes motivos, somados ao fato de eu ser diabética, ter 38 aos e um “útero no mioma”,  ele, que nem a irmã, também teve de ser  içado mais cedo.  A cesárea foi marcada para dia 3 de janeiro, sob protestos de que “ele não poderia comemorar o aniversário na escola, com os amiguinhos, e toda a família estaria viajando, não dá pra esperar o ano letivo começar?”. Mais uma vez fui  ignorada pelo obstetra, e lá fomos nós de novo...

Desta vez não tive problemas com a pressão, só com a glicose, que disparou nas últimas semanas de gravidez. O remedinho da diabetes é teratogênico, isto é, dá má formação fetal, por isso não pude tomá-lo, tive de entrar na insulina, que não resolveu muito. Minha endocrinologista passou o parto me espetando os dedos, pra medir o açúcar. E meu fiel  escudeiro, Mô, estava lá, narrando os fatos por trás daquele lençol que tapa a cena toda, e me lembrando pra parar de falar, por causa dos puns ( mas não adiantou, foi tudo igual ). Tinha um anestesista muito grosso, burrão mesmo, que me dava foras todo o tempo. O Tariq nasceu meio azulzinho, custou a chorar e o Apgar deu baixo, não lembro o número, mas tem escrito nalgum lugar dessa casa. Aliás, meu filho nasceu azul e depois camaleou-se em vermelho, teve icterícia. Para evitar que eu voltasse pra casa sem ele, meu médico maravilhoso inventou lá uma ziquizira que me deixasse no hospital por mais 2 dias com meu neném!!! 

Esse obstetra me disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: “Vocês ficam é  com a memória fraca depois  de parirem o 1º filho, ou não teriam o segundo!” Como é bom poder rir dessas coisas todas, agora que elas estão longe! Escrever sobre elas é uma catarse! Poder saborear o que ficou de bom, de terno, lembrar a sensação de alívio ao tocar meus filhotes após duas gestações complicadas, sob constantes ameaças  de perdas, e olhar pra eles aqui do meu lado, me vendo reconstruir essa parte da história deles... só quem é mãe pode aquilatar.

                                                   (Else Portilho, mãe doidinha da Talita e do Tariq)

11 comentários:

  1. Else, eu aqui no mesanino em plena 6 da manhã, num domingo rindo feito maluca por causa do seu texto!! Acham que pirei, mas eles nem sabem de nada. Quero ver alguém ler esse texto maravilhoso, divertido e não se envolver com ele? DUVIDO!! Como você sofreu, menina, nos dois partos! E o mais interessante é conseguir relatar passo a passo toda essa trajetória dolorosa com tanto humor e inteligência! Eu concordo com o médico, temos amnésia após o parto, mas não por esquecimento (você é prova viva disso), apenas nós substituimos as sensações pela alegria e felicidade que o nascimento de um filho traz. Adorei seu texto.

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  2. Else, vc é divertida!!! Assim como a Zizi, ri muito aqui sozinha no meu pc. Adorei!!! Bjs

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  3. Nossa como você sofreu, Else! Mas o sofrimento te trouxe duas bençãos: seus filhos! Ri e me emocionei com a sensibilidade do seu obstetra ao dizer "Filha, a partir de hoje, o dia 2 de setembro vai ser o dia mais lindo da sua vida!". Achei lindo!

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  4. Já comecei a rir com a escolha da imagem, uma charge, que é a sua cara mesmo, amiga! E depois, claro, fui me envolvendo com seu texto, sempre na linha tênue entre emoção e riso... Paradoxalmente chorei e ri ao mesmo tempo, para o espanto da minha sobrinha e de uma amiguinha dela que estavam aqui por perto! Seu jeito de escrever e de se expressar é inconfudível, menina! Uma delícia de se ler! Acho que até se precisasse escrever uma carta falando sobre um falecimento vc consegue dar um toque de leveza. Vc tira leite de pedra, Elsinha, de verdade! Parabéns, pois isso é mágico!

    Agora vamos ao texto... Morri de rir com o fazer "fotossíntese"!!! Vou adotar essa expressão, tá? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Morri de rir imaginando um siri misturado com pata. Só vc!!!! Surreal!!! kkkkkkkkkkkkkkkkk

    Também tive pré-eclâmpsia... Trocava o nome das coisas... a boca não acompanhava a mente... ou vice-versa, sei lá... Foi horrível! Mas ainda bem que fiquei controlando a pressão e na hora do parto foi tudo normal, graças a Deus! Lembro-me que me recusei a tomar o Somalium que a minha obstetra mandou, por medo de dar alguma reação no meu filhote... Minha gravidez foi tb a fase mais saudável em termos de alimentação que tive na vida, tudo por medo... Filho muda mesmo a gente e nos faz abrir mão de muitas coisas...

    Que bom que, no final, deu tudo certo e hj ainda consegue tornar comédia o que tinha tudo pra ser drama... Tantas complicações, mas aposto como passaria por tudo isso de novo pra ter bênçãos como estas que vc tem, amiga! Não é verdade?

    Beijos iemnsos e que linda a cumplicidade entre vc e o Mô, sempre. Que Deus os abençoe!!!!

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  5. Saudações Belicosas... Else como sempre me encanto com seus textos... hj, em particular, ri, chorei um pouco e me comovi. Passei por tantos momentos complicados tb... hj vejo e sei q Deus com todo Seu poder age misteriosamente... nós dá o peso na medida certa, sabe o q podemos suportar... depois nos conpensa com maravilhas!!! Meu filho é uma MARAVILHA de DEUS! Mais uma vez repito... SOU SUA FÃ!!!

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  6. Else você é figura! Se não existisse teria que ser inventada, só para nossa alegria e emoção!
    Interessantíssimo como você intercala o humor com momentos dramáticos, tornando a narrativa leve, gostosa de ler.
    Não dá pra dizer o que é melhor: "fazendo fotossíntes"... "espremendo o peito feito furúnculo"... "um útero mioma"... kkkkkk!
    Seus filhotes são abençoados com uma mãe tão doidinha e séria!
    Os melhores textos vão virar livro, né?

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  7. Else, seus textos são divertidíssimos! barulhentos, dramáticos! É uma dosagem perfeita de dor e humor! Muito bom menina!!! Você é critiva, dinâmica! Parabéns!!!

    Ricas bênçãos para sua linda familia!

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  8. kkkkkkkkkkk Não te aguento, Elsinhaaaaa!
    MA RA VI LHO SO seu texto! Me estraguei de rir aqui, principalmente da fotossíntese...ahahahaha

    Ai, como você escreve bem! Tem seu estilo que é inconfundível, menina. Muito bom mesmo. Mas eu nunca imaginei que você tinha sofrido assim e ainda por cima, nas duas vezes que engravidou. Fiquei surpresa..´.

    Que gostoso conhecer um pouco mais de sua história. Aposto que a Talita taí com você lendo esses comentários. Beijoooo, Talitaaaa! rs

    Beijão, querida

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  9. Else

    Não é à toa que um colega seu a chamou de Veríssimo de saia...rsrsrs.( no facebook)
    Realmente acabamos amenizando todas as dificuldades que passamos quando vemos aquelas carinhas lindas.

    Beijo

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  10. Amiga, que sufocoooooo ! kkkk Eu tenho ótima memória, por isto parei no primeiro. kkkkkkkkkkkkkkkkk Brincadeira, até que foi fácil minha cesárea, o problema é que tinha pavor em ter outro, pois tinha que trabalhar, arrumar alguém para ficar, não tenho nem um parente por aqui, blá blá blá Hoje teria outro logo em seguida, e muda novamente. hehehe

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  11. Elseamiga, você é maravilhosa! Consegue fazer graça até com esse momento tão delicado. Parabéns pelo seu estilo "engraçoso" de ser. Continue a escrever, assim vamos nos divertir muito. Bjs
    Celi Luz

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