quarta-feira, 4 de maio de 2016

Filho não cresce



A expressão que intitula este texto é a mais comum e enganosa de todo o acervo protecionista de mãe. Aquela que assim pensa, tende a sofrer um bocado no momento em que eles, os filhos, se libertam e vão. Longe de ser a detentora da absoluta da verdade, preciso dizer que a hora chega e você, mãe, perde completamente o domínio da situação.

Nesse momento, a saudade do tempo em que eram lagartas e escondiam-se nos próprios casulos ou, como borboletas iniciantes, não se arriscavam a passeios longínquos e se contentavam em girar apenas no entorno do nosso pomar, invade o peito.

É claro que toda essa metamorfose não acontece do dia para a noite. Ao longo da vida, os filhos vão dando mostras do momento de libertação que se anuncia. Eles deixam de dar a mão na travessia das ruas; param de chorar na hora de entrar na sala de aula; dirigem-se aos ônibus de passeios escolares e “dão tchau” (apesar do seu pranto); dormem na casa do coleguinha, sem demonstrar o menor constrangimento pelo abandono da maior, que em casa fica, e passa a noite toda pensando na falta que o filho, ainda pequeno, faz.
Como nem toda lagarta que vira borboleta sai alçando voos, penso agora na contradição de vida e nos sentimentos que habitam o coração de uma mãe. Ao mesmo tempo em que temo pelos voos do meu filho mais velho por jardins nunca antes por mim avistados, torço para que a minha borboletinha azul, ainda em estado de clausura, apresente traços mais significativos de liberdade. Não falo nos cuidados próprios, porque esse tipo de independência foi em grande parte conquistada, mas sim no seu posicionamento diante do mundo. 

Ela ainda não entra na escola sem chorar muito, agarra a minha mão para andar na rua, não sobe em um ônibus escolar me deixando do lado de fora, mesmo que seja eu a sorrir e acenar, e muito menos, dorme sem a minha presença (nem eu sem a dela).

Acredito, então, que a valorização e o respeito ao tempo devem entrar em harmonia, pois somente com sua passagem poderei ter a certeza de que todos os valores construídos estão ou serão postos em prática por meu filho.

Quanto à pequena, o tempo também será crucial para responder a todas as minhas questões, pois além de  eu ter que respeitar o tempo dela, é preciso intervir para que seja trabalhado, afinal, não sou nem serei eterna. 

Os filhos crescem sim e devemos, muitas vezes, agradecer por isso. Desejo aos meus dois filhos um maravilhoso e seguro voo.




 (Mônica Jogas - mãe do Renan e da Maitê)

3 comentários:

  1. Lindo texto, gostei muito da visão do casulo até à borboleta. Olhando.por esse ângulo, é bem.assim.mesmo


    Quando voam não.podemos mais prendê-lo, apenas contemplar o voo. Bjs Bethy

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  2. Como sempre, lindo texto, e saudoso, nostálgico também! E como eu já a entendo!
    Minha lagartinha já notou que pode ir além e que já se encontra em transição... logo logo deve dar uns passeios para mais longe, antes de começar a voar. O jeito é a gente ir tentando preparar o coração para cada uma dessas fases, inevitáveis são elas, né? Amei as metáforas... e que a gente possa estar sempre por perto para aplaudir os seres que nós ajudamos tanto a criar, a se libertar, cada qual à sua maneira. Sei que fez e faz um excelente trabalho, amiga. Beijos.

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  3. Sentimento materno é algo infinito mesmo! E além disso, pode ser representado de tantas formas diferentes!! seu texto está maravilhoso, recheado de metáforas e sentimentos embutidos nelas.
    Acompanhamos o crescimento dessas lagartinhas e temos tanto orgulhos de vê-los crescendo bem , cheios de sabedoria e sentimentos verdadeiros! Não é fácil traduzir tanta emoção com palavras, mas vcs, mães dão sempre um jeito de nos encantar com seu coração e olhar embebidos de amor. Parabéns pelo texto e pela riquíssima forma de expressão! Parece um poema o seu texto.

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