quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pequenos Frankensteins

"(...) Não pedi para nascer,
Não escolhi o meu nome, 
e tenho um corpo montado

Com pedaços de avós, fatias de pai
E amostras de mãe.

Nas reuniões de família
O esporte predileto
É dissecar Frankenstein:

“Os olhos são dos Arruda...”
“Os pés lembram os Botelho...”
“Tem as mãos do velho Braga!”
“... e o nariz é dos Fonseca!”(...)


(Trecho de "O jovem Frank", de Carlos Q.Telles)



É assim que acho que todos os bebês se sentem ao sair da barriga da mãe. O “chororô” inicial nada mais é que um pedido de “Deixa-me ser quem eu sou, ainda que com os olhos iguais aos do vovô, narizinho igual ao daquele primo de segundo grau, etc., etc., etc...” ou absurdos do gênero.

Só quem é mãe sabe o quanto o nariz do seu filho parece com o de tanta gente, menos com o dele mesmo. Ou como neste segundo a testa dele pode ser estreitinha como a do pai ou larga como a do irmão no segundo seguinte.

É engraçado como as pessoas parecem querer deixar suas marcas no mundo através dos traços das crianças...

E ai daquele que contrariar um parente cujo sinal está claramente naquele bebezinho indefeso... “Mas não vês que é exatamente igual?” - ignorando o fato de um bebê com horas de vida ter traços idênticos aos de uma pessoa no alto de seus quarenta anos.

Há os saudosistas que se esmeram de se lembrar com detalhes como os filhos eram naquele exato momento há anos... “As orelhinhas são idênticas às do meu filho quando nasceu!” E eis que surge na mãe aquele pavor lá no seu íntimo: “Céus! Do meu bebê vão ficar assim também?”

Não se devem esquecer os que nem se importam com os detalhes de semelhança: “Basta que tenha saúde” ou “Todos os bebês são iguais” são falas também muito comuns em visitas de hospital. E aos pais cabe aquele sorriso amarelo seja de alívio pelo bebê ser saudável, seja pela dúvida de ter chamado ou não seu bebê de feio...

O fato é que toda mãe quer sempre que seu filho seja sua cara. Passar 40 semanas sendo chamada de gordinha, ter varizes, pés inchados, ameaças de estrias, cansaço, dores nas costas, desconforto para dormir, enjoos, azia... Enfim, seria, no mínimo, um “obrigado” da mãe-natureza a carinha ser igual à sua.

Mas a vida tem as suas traquinagens e o bebê tem a audácia de ser a cara do pai! E quando maior, tem até as manias dele (para afrontar aquela vez que a mãe reclamou e disse que se fosse com seu filho, não seria assim....)

Nesse instante, a mãe percebe que ama aquele serzinho pelo que ele é, não importando com quem ele se pareça mais. E no fundo, bate um orgulhinho de ele ser a cara do pai, que foi o homem por quem ela se apaixonou e lhe deu esse presente infinito e maravilhoso.

Então, a mãe estufa o peito e diz em bom tom: “É a cara do pai!”

(Por Nina Marinho, mãe da Mariana)


Observação – Marianinha é a cara do pai, embora algumas pessoas digam que se parece comigo (eu, honestamente, não acho – é mesmo a cara do pai). Todos só dizem que se parecem comigo quando dá seus chiliquinhos e fica bravinha. Eu, concordo, pagando o preço de ter sido assim com a minha mãe...

9 comentários:

  1. Muito bom post! Deve ser mesmo um pouquinho frustrante carregar um bebê na barriga por tantos meses e no final ele não se parecer muito com a mãe e sim com o pai. Mas eu acho que cada criança traz um pouco do pai e da mãe. De um tem a semelhança física e do outro são outras características. Adorei o post! Eu gosto muito deste poema "O jovem Frank"!

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  2. Esse poema é muito fofo... Ainda não conhecia esse trecho, sinal de que preciso, com urgência, lê-lo todo. Adorei tb a imagem! Aliás, onde vc encontra imagens tão interessantes, sempre? Adoro! Mas devo confessar que muito melhor do que o poema fofo e a imagem show de bola foi o seu texto! Sensacional mesmo! Parabéns! E acho que, principalmente depois dele, precisamos nos policiar ao tentar ver semelhanças nos nossos pimpolhos e nos pimpolhos alheios! Toda criança deve, no fundo, querer ser diferente de todo mundo e ser parecida apenas com ela, única, né? Que assim seja! Mas tb não me importava nem me importo quando dizem que Miguel é a cara do pai... Ainda bem, né? Já pensou se tivesse a cara do homem da padaria ou do mercado?!? Vixe, aí eu teria que me explicar... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  3. Clecia,
    que bom que você gostou!
    Tb acho que levamos dos nossos pais um pouquinho de cada.
    Lindinho esse poema do Frank, não é?
    Bjs

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  4. Dequinha,
    fico feliz que tenha gostado. Confesso que este é um dos meus posts favoritos (modéstia zero, né?). Mas acho que é porque refleti mais do que relatei o que aconteceu comigo. Ficou mais uma crônica, acho.
    As imagens eu busco no Google mesmo, mas sempre em idiomas diferentes (português, inglês, alemão, etc). É fuçando mesmo... kkkkkk
    Eu acho mesmo que para criança deve ser chato viver sendo comparada às outras pessoas. Eu, como irmã mais nova, sei o que é isso - sempre fui parecida com alguém, mas ninguém se parecia comigo. Agora, com a minha filha é que achei que teria alguém parecida comigo, mas não foi o caso...kkkkkk....
    Eu, como vc, não importo que ela seja parecida com o pai... Adoro isso de verdade.
    Bjs, amiga!

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  5. Nina..o seu texto me fez refletir sobre o assunto "parece ou não".A gente acaba até sendo meio egoísta de tanto querer ou desejar tem uma "maquete" ou "xérox" em casa. Você tem razão: por que todos os sinais dos filhos tem que ser do pai ou da mãe? É apenas dele, oras bolas!! Escutei tantas vezes que eu era a cara e jeito da minha tia que até não conseguia mais fingir a cara de entediada que eu ficava. Começavam a dizer que eu não gostava de parecer com ela. Mas não era isso; eu já tinha me cansado de tanto ouvir a mesma coisa e não sabia quando eu era "eu mesma".
    O tom de crônica do seu texto deu um toque todo especial: show!!

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  6. amiga, refleti também sobre seu texto, mas meu filhote já nasceu a cara do pai. kkkkkkkkkk Acho que foi clonado. hehehe O Albieri da novela deve ter conspirado. bjss

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  7. Nina, realmente é isso que sempre acontece, os coitadinhos nunca têm seu nariz, sua boca deles mesmos hahahahh.
    No meu caso dizem que uma se parece com o pai e a outra com a mãe, coisa de visita que quer agradar a todos hahah
    bj

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  8. Nina, seu texto é encantador, por ser ele, cheio de reflexões que ainda não tinha parado para pensar, mas o engraçado mesmo foram os chiliquinhos, a herança que você deixou para ela, muito bommmmm!!!!

    Bjo

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  9. Ai, Nívea, que legal seu texto!! Muito, muito interessante mesmo porque eu também refleti sobre essa questão....você tem toda razão! O bebê deve querer ser ele mesmo, tadinho....rsrs

    Parabéns! (concordo com vc na resposta à Clecinha...esse é o seu melhor post...rsrs)

    Beijosssssss

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