domingo, 24 de julho de 2011

Mais uma espetadinha...


Muitos dos nossos perrengues têm a ver com as alergias respiratórias e alimentares do Tariq. O primeiro graaande perrengue foi  descobrir o que causava inúmeras e  duradouras diarréias e as 4 pneumonias, seguido pelas longas  adaptações aos leites disponíveis no mercado, caríssimos, até aprendermos a fazer em casa leite de galinha e depois de banana. Ficamos experts em nutrição naquela época!

Mas vou contar uma das muitas vezes em que ele ficou infestado de aftas. Primeiro foi  aquela dificuldade danada pra engolir alguns alimentos e ia rejeitando outros. Sempre que toma antibióticos  isso acontece, mas daquela vez toda a imunidade do garoto desceu pelo ralo. Começou discretamente,  mas nada do que o médico passava era capaz de conter o avanço daquelas perebinhas,  e foi tomando a boquinha dele com uma fúria, que quando nos demos conta, de uma hora pra outra  ele não conseguia mais nem beber água! Eu estava trabalhando e minha mãe me ligou apavorada contando o desespero dele, lembro que larguei a turma, passei na sala da direção e falei tipo “fui”. Liguei pro Mô, que ainda demorou a chegar pra pegar a gente, porque estava com um passageiro e já era hora do rush.

O Tariq gritava “Quero ááágua, quero ááágua, eu tô com seeeede!” durante todo o trajeto, chorando um choro sem lágrimas, se debatia no carro, dava tapas na garrafinha de água, nem me ouvia , parecia que eu nem estava lá. Os olhos fundos e parados, a voz rouca, os lábios sem cor, eu rezava  rezava, parecia que ele tava morrendo, meu Deus, meu coração tá disparado aqui, lembrando. Quando chegamos ao Pronto Baby, entramos com ele direto na Emergência, nem fizemos ficha, claro. Na hora ainda achamos que foi demorado o atendimento, mas percebemos que o nosso desespero é que nos fez pensar assim!

Uma enfermeira me pediu pra segurar o Tariq para que ela pegasse a veia dele e gracejou quando pedi  que mais pessoas ajudassem “Ô mãe, você não tem força não?”. Chamei  o Mô, porque sabia que nós duas não íamos conseguir, já havia visto aquele filme, mas numa versão light!  Caramba, o Tariq parecia um cavalo chucro, um touro bravo, até hoje não entendemos de onde saiu tanta força naquele garoto! Mais enfermeiros foram chegando, éramos 6  agarrando o menino, tentando imobilizá-lo, e ele   lutava para se livrar daquele monte de mãos que o prendiam. Eu choraaaava e tinha vontade de chutar aquele povo que machucava meu filhote, ainda espetaram os bracinhos , os pés e as mãozinhas um monte de  vezes, porque ele estava tão desidratado que as veias não davam as caras e estouravam rapidinho.

Depois que conseguiram espetá-lo adequadamente, o stress  foi conseguir mantê-lo espetado, porque ele tentava arrancar o cateter e se enrolava naqueles caninhos. Aff, foi uma canseira danada! E ainda mais duro foi ouvir da pediatra “Como foi que vocês deixaram chegar a esse ponto, ele já estava em estado de confusão mental!” Aí mesmo é que eu desabei, né, me senti a própria mãe burra, incapaz de perceber a gravidade de uma situação. E olha que costumo ser bem exagerada nessas questões de saúde, acho que toda mãe é. Hoje não me sinto culpada por aquele dia não. Foi uma coisa fora mesmo de controle, uai!

Bem, fiquei com ele no hospital 4 dias e foi um presente quando ele conseguiu devorar um pratão de comida sem se queixar de dor. Aprendi com uma enfermeira a fazer uma misturinha fantástica para deter qualquer Maldição das Aftas parte XXXVIII, e fabricamos sempre que um novo ataque se anuncia! Não vou postar aqui porque não se deve receitar remédio, né, mas que é maravilhoso, é!! O que eu preciso registrar também é um bilhetinho que a Talita escreveu pra ele, e que o Mô levou pra gente na  3ª noite: 


“Caro Tariq,
Te desejo melhoras. Estou te mandando 3 dinossauros pra você brincar.Eu estou rezando para você toda noite!  A Ursula  [ lhasa apso da minha irmã] acabou de te mandar um beijo  no nariz! Hoje a vovó chorou! E pôs uma oração no “cantinho” dela (do computador):
“Senhor Jesus, curai o meu netinho! Traga ele para casa com saúde!”
Tia Erika também está triste. E eu também, claro! Trate de melhorar logo, que eu quero alguém para brincar! 
Beijos da sua irmã, Talita.
Obs: Mamãe, leia o bilhete para ele!"

Nem preciso dizer que fiquei com a voz embargada e todos fungando lá no quarto, com essa demonstração de carinho e saudade da  Tatá!

Gente, saúde é mesmo o principal, né?!! Todas nós conhecemos bem as pequenas alegrias diárias que ela nos proporciona... Ver nossos filhos batendo um prato com a nossa  comidinha, dormindo serenos, acordando com aqueeele sorriso feliz de cara amassada, brincando sentadinho ou ensaiando passos pra longe da gente, é o que acalenta o nosso coração depois de qualquer perrengue!


                                                                              (Else, mãezinha dos saudáveis Tariq e Talita)

8 comentários:

  1. Amiga, saúde é realmente o principal, sempre falo isto, o resto sempre tem um jeitinho. Eu sempre falei que a única coisa que me tira do sério e me deixa chateada é ver meu filhote doente.

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  2. Profesora a senhora botou ese bilete da sua filha que é muinto lindo a senhora também é linda e eu gosto sempre de le oque a senhora escreve nese blog e a sua aula tambem a senhora é muinto ingrasada um bejo da tauane

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  3. Verdade absoluta! Nada melhor que ver nossos filhos saudáveis. Mãe se acaba quando os filhos estão doentes.

    Beijo Else

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  4. Fiquei aqui com o coração apertado lendo cada linha tão bem descrita sua, amiga. Senti a sua aflição... Acho que tem muito ser humano que se condói com a dor alheia, mas acredito que TODA MÃE se condoa com a dor da outra! Somos até, ouso falar, uma espécie de seita (no bom sentido, claro!). rs rs rs

    Recentemente Miguel teve que fazer o primeiro exame de sangue... e eu quase morri... com vontade de chorar... de tanta pena... ainda mais vendo-o chorar (é cagão que nem o pai). Fico imaginando vc então! Afe!

    Pediatras são engraçados às vezes... e a gente leva logo no começo, dizem que a gente é exagerada e que não é nada de mais... se a gente demora, diz que a gente demorou e faz com que nos sintamos a mãe mais negligente do mundo! Hunft!

    E chorei mais ainda na parte fofa do bilhetinho da Tatá. Uma graça! Beijocas e saúde para todas as famílias...

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  5. Else, se há algo que magoa muito uma mãe é alguém apontar o dedo e julgar dizendo haver falhas nos cuidados maternos. Mãe não tem descanso, mãe vive em eterna oração pelos filhos, mãe prefere tomar frente a tudo para proteger sua prole, mas, infelizmente o que tem que acontecer, não temos como impedir. A questão da saúde deles, então é a preocupação múmero UM!
    Fiquei emocionada do modo como descreveu o sofrimento do Tariq e o seu, e encantada e emocionadíssima com o bilhetinho da irmã.Que fofa!!
    Mais uma coisinha: uma graça encontrar comentários tão carinhosos da sua aluna;))

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  6. Else, seus textos são sempre muito emocionantes!
    O perrengue foi difícil, mas você traz uma maneira muito especial de contá-lo!
    Dolorido o episódio com o seu filho, mas o mais impressionante é a dor da mãe! Incrível!!

    Bjos!

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  7. Nossa, Else! Foi um perrengue mesmo, hein? Deu até aflição aqui! Bjos!

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  8. Elsinha, eu imagino toda essa situação e sei o quanto é difícil ver nosso filho doente. É como as aplicações de botox do Henrique, sabe....anestesia, furinhos por toda a perna, jejum. Fico pra morrer, assim como você ficou.
    E é um alívio quando tudo isso acaba.

    Ahhh, que linda a Talita!! Manda um beijo pra ela ;)

    Como sempre, arrasou no texto.
    Beijocas

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