sábado, 23 de julho de 2011

Minutos (quase) eternos

Minha memória assemelha-se a uma videoteca com arquivos variados exibidos em uma tela,  cujos flashes intercalam-se simultaneamente numa desordem temporal e  espacial. O que determina a sequência dessa exibição é a relevância do tema abordado. Minha singela incumbência: captar, selecionar e editar tais imagens para que outros olhos possam conhecer e transitar por fatos antigos que, lembrados hoje, até podem provocar riso, mas um certo dia, foram motivos de muitas lágrimas e desespero. Um suplício. Uma agonia. Um perrengue!  
Passeava de mãos dadas e conversava animadamente  com meus dois filhos: Danilo e Patrícia,  no interior de um estabelecimento comercial ; ele com 4 e ela com 2 anos  . Segurava-os firmemente por precaução,  pois estava meio cheio. Eles, levados pela curiosidade, puxavam-me de um lado para outro, cada vez que algo lhes atraía a atenção. Eu continuava firme, não os soltava. Num dado momento, meus olhos esbarraram em algumas promoções. Arrastei-os  até lá, queria ver com mais detalhes, mas minhas mãos estavam ocupadas segurando as crianças. Soltei um dos lados e tentei mantê-los perto com uma única mão. Difícil. Já suada, nem conseguia segurá-los, estava lisa demais. Troquei de mão. Eles  entediados, visto que não eram do seu interesse  roupas ou acessórios. Começaram, então, a reclamar. Eu precisava apenas de mais alguns minutos. Paciência! O duelo das mãos estava ficando árduo. Cansei. Fiz uma pausa. Soltei-os com uma condição: que não arredassem o pé até eu concluir o que estava fazendo. Depois eu os deixaria escolher algo e compraria. Concordaram (Pelo menos fizeram de conta). Eu  mantinha um olho nas compras, outro neles. “Que gracinha, estão colaborando!”, pensei. 
Esse pensamento durou pouquíssimo tempo...alguns segundos...talvez minutos. Numa fração mínima de tempo (quem sabe entre uma piscada e outra) ,  olhei e não os vi. Não podiam estar longe se há pouco estavam ali do meu lado! Minha primeira reação: larguei tudo e olhei em volta. Nada!  Percorrei diversas prateleiras chamando-os pelo nome em bom tom. Nada! Aumentei o tom da voz, agora já não falava, gritava: “DANILO!!!  PATRÍCIA!!!”   Percorria todos os corredores e não os encontrava. Eu gritava, tremia e chorava descontroladamente. Lógico que a essa altura as pessoas já estavam assustadas com o meu escândalo. Não sabia o que fazer, andava e corria sem rumo,  ainda não tinha pedido ajuda. Vendo o meu desespero,  seguranças e  clientes da loja se comoveram,  vieram em minha direção e ofereceram ajuda. Descrevi as crianças (idade, cor dos olhos e cabelos, como estavam vestidos, etc), anunciaram no auto-falante, e participaram da busca. Nada!
Perder meus filhos por minha culpa? Sentia-me a pior das criaturas. Minha vigilância materna falhara. Que péssimo exemplo de mãe eu era! Tão relapsa, descuidada, incompetente! DOIDA!! Onde se viu sair sozinha com duas crianças pequenas? E o pior: naquele tempo as notícias de desaparecimento e sequestro de crianças para roubos de órgãos eram muito  freqüentes! Esses pensamentos bizarros buzinavam em minha cabeça e me deixavam mais desesperada. Se algo de mal acontecesse a eles, eu jamais me perdoaria. Se não os encontrasse, tudo perderia o sentido, até a minha vida.  Foram os minutos mais eternos que eu vivi. Não lembro exatamente quanto tempo durou esse sufoco, talvez uns  10 ou 15 minutos...ou um pouco mais.   Eu já estava perdendo a esperança de encontrá-los. De repente, ouço: “Dona, há duas crianças em um dos corredores da seção de brinquedos, a senhora já foi lá? Eu nem me lembrava se sim ou não ou talvez. Não importa!  Segui-o e finalmente os encontrei: lá estavam, ambos brincando tranquilamente na maior inocência com os brinquedos das prateleiras. Senti vontade de dar uns beliscões neles. Não fiz nada disso. Só os abracei e chorei muito. O moço me aconselhou a não punir as crianças e sim agradecer a Deus por tê-las encontrado. Um anjo disfarçado de segurança fora enviado por Deus para me ajudar.
O susto passou, mas o trauma não. Depois disso eu redobrei a atenção. Durante toda a infância deles eu grudei feito chiclete. Confesso que fui exageradamente cuidadosa. Uma fiel e verdadeira guardiã 24 horas. Só dei uma folguinha quando voltei a trabalhar e a estudar.
Quando pensei que havia superado o choque, 20 anos depois, aconteceu de novo. Desta vez  com meu neto Gabriel (filho do Danilo) quando ele tinha dois anos. Ele nos driblou (eu e a tia) no cinema e deu-nos um “eterno perdido” de mais ou menos 10 minutos. O escândalo que fiz pelo meu neto, acreditem,  foi pior, bem pior... Vocês nem fazem idéia!!   Esse, quem sabe, um dia eu supere...
                                                                        (Zizi, mãe do Danilo e da Patrícia)

9 comentários:

  1. Zizi

    Estou rindo aqui...mas na verdade essa situação é de enlouquecer...rs. Acho que o maior perrengue mesmo é essa vida louca de mãe, mulher, profissional, etc. Temos que dar conta de tanta coisa e muitas vezes não temos como deixar nossas crianças. Eu também vivia atormentada (minha mãe ainda piorava a situação) de medo de alguém sequestrar meus filhos. Nem no portão de casa eu os deixava ir sozinhos. Então aconteceu um fato engraçado...o Felipe, como nasceu bem mais moreninho que o Lucas, esse resolveu não querer aquele irmão "marrom", então para amenizar a situação estávamos sempre brincando com o Fe e dizíamos que era a cor mais linda do mundo (realmente acho isso). Então ele se achava o último biscoito do pacote....rs. Um dia encontrei ele no portão (devia ter uns 3 anos) conversando animadamente com um estranho. Quando o questionei por isso ele respondeu: "Mamãe ele é marrom, é gente boa!" rsrsrsrsrs

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  2. Zizi
    Como você acalmou meu coração,(mãe só muda de endereço hahah) pois sou meio neurótica quando o assunto é perder as meninas em meio a multidão, na praia.Quando perco por segundos, faço escândalo até hj(elas têm 13 anos), e não sinto a mínima vergonha, (elas sim ahahahahah), mas quando as encontro confesso que dou umas broncas nelas .
    bj

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  3. Seu texto me deu uma aflição!Fiquei sentindo aqui o que sentiu ao não encontrar as crianças. Deve ter sido terrível, Zizi! E ainda mais por ter acontecido de novo com seu neto! Ainda bem que tudo teve um final feliz!

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  4. Ai, que desespero, Zizi!! Assim como a Clecinha, fiquei agoniada lendo seu texto. E na verdade, não é descuido, elas que são rápidas demais...rsrs
    Que bom que deu tudo certo!
    Só que depois, tinha que ter passado por isso de novo?? Poxa! Massssss...que bom que deu tudo certo mais uma vez, né? rs

    Beijocas

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  5. Nooossa!!! Tb fiquei aflita ao ler este texto! Nunca passei por nada semelhante, pois sou chiclete assumido, mas Deus sabe o que faz... se eu às vezes perco Miguel dentro de casa e já faço um escândalo sem tamanho!!!! Me bate o maior desespero!!! Pior que o sapeca de uns tempos pra cá se esconde e fica quietinho, mesmo me vendo desesperada!! Quando era menor gritava "eu tô aqui!!!", mas agora... rs rs rs

    Imagino o desespero e ainda bem que deu tudo certo, e com seu neto tb!!! Se perder filho de vista (ainda que momentaneamente) deve ser duro, imagina então perder neto, que, segundo dizem, é ser filho duas vezes!!!

    Criança cega mesmo, em minutos... Quem é mãe então bem sabe disso, né? Bjos.

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  6. Uia uia, me deu uma aflição danada seu post, porque acho que não existe mãe que nunca perdeu o filho por alguns segundos que fosse... Dá um nó no gogó, uma falta de chão e de ar, que nem me fale... Kkkk, mas o engraçado é depois, né, que a gente fica tão aliviada por estar tudo bem, que fica querendo matar o coitado, que tá ali sem sequer imaginar a profusão de sentimentos que tomou conta das pobres nós!!!!

    Olha, mas tenho que dizer que eu ri muito também, porque ficou muito divertida a sua descrição da correria e de como você se sentiu péssima pela distração!!! Daqui a pouco vamos ter de mudar o nome do blog para "Péssima mãe, você ainda vai ser uma!"
    Beijão procê, Zizi querida!!!

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  7. menina, imagino o seu sufoco. Minha mãe passou por isto com meu filho. Quando a encontrei ela estava aos berros e logo depois apareceu o danadinho. Estava correndo pela escada com outras crianças. É horrível mesmo, ela ainda achou pior, pois pensava em como iria me dizer que perdeu meu filho. kkkkkkkkk. bjkss

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  8. Zizi, que felicidade é o alívio!!! imagino o sufoco, mas graças a Deus que tudo acabou bem!!!

    Bjos

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  9. Obrigada, meninas!

    Mariuza, seu filho fez igual meu neto que, um dia, conversando sobre cores disse que não há pessoas pretas, elas são marrons, umas mais claras, outras mais escuras. Achei lindo!!

    Maria Regina, concordo com você "mães só mudam de endereço", a gente tem tanto medo de perdê-los que perde o controle quando se passa por uma situação dessa de provável fuga.

    Clécia, pois é, já não bastava o que eu tinha passado, tive que passar tudo de novo. Parece que quanto mais ficamos em cima deles, é pior.

    Simone, hoje meu neto tem 7 anos, quando saio com ele, não posso perdê-lo de vista. Minha filha vive brigando comigo, dizendo que sou exagerada porque fico o tempo todo: "Cadê o Gabriel, cadê o Gabriel?"

    Dequinha, toda a minha corujice e cuidados não adiantaram, passei duas vezes pelo susto. Foi mesmo horrível pensar que tinham levado meus filhos e depois o netinho que eu crio.

    Else, hoje eu tb rio ao lembrar, mas Deus me livre passar por isso de novo. Acho que tenho um ataque.

    Cris, essas crianças nem fazem ideia de como nos sentimos responsáveis por elas, e se for filho dos outros, netos então, é pior.

    Maria, a gente nem faz ideia das coisas que temos que passar por causa dessas crianças. O amor de mãe não é deste mundo porque nem cabe nele, é além, muito além.

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