sábado, 9 de julho de 2011

Não tem preço!!!


Estudar e trabalhar: dois verbos que eu conjugava no presente  ao mesmo tempo em que planejava o futuro. Dois objetivos que eu não abria mão porque representavam, para mim,   garantia, conquista e estabilidade nesse mar de desafios e concorrência à toda prova.
Confiante de que meu enredo  estava em desenvolvimento e encaminhando-se para o desfecho, fui surpreendida, um certo dia sem aviso nem pedido de permissão, por um intruso, vulgarmente conhecido como amor. Entrou disfarçado de paixão no meu “mundico” e revirou todo o baú, até obter o avesso da situação. Como se não bastasse, ordenou “Recolhe tudo de volta e organize numa outra sequência”.
Foi assim que meus planos tomaram outro rumo, influenciados e conduzidos  pela química  efervescente da flecha do Cupido  (esse invasor de coraçõezinhos  indefesos).
Demitida  do último emprego pelo simples fato que iria casar em breve (Não tinha nenhum  sentido esse motivo, contudo  era  critério da empresa. Quem  ousava  encarar o Vilão-chefe-mor  e tomar uma atitude? Euzinha da Silva?).  Minha revolta e Nada tornaram-se sinônimos. “Passa... arrumo outro emprego, pensei...” .
Nem houve tempo de replanejar. Logo  recebi a visita da Cegonha,  que deve ter apreciado o meu cafezinho e se sentido muito confortável no aconchego do meu cantinho, porque  retornou rapidinho-rapidinho com outra encomenda no meu endereço. Agora não era somente um, mas dois pequenos para eu cuidar: um laço duplo dificultava meu voo de retorno ao trabalho.
Adormeci  ou arquivei  tal ideia  por um determinado tempo, já estava tomada pelo encanto de ser mãe e desse modo empenhei-me na nova missão que já consumia meus dias, noites, madrugadas...
Foram sete anos de dedicação plena e exclusiva  os quais vivi experiências que não têm preço: pude acompanhar passo a passo o desenvolvimento de ambos:  a amamentação;   as primeiras palavras;  os primeiros passos;  as descobertas do espaço e dos objetos à sua volta,  as primeiras quedas; o embalar para dormir; as vacinas;  todos os banhos;  as caminhadas ao sol matinal; os passeios no carrinho; os choros provocados pelas dores de barriga e os chazinhos para amenizá-los; os carinhos; os beijos;  as babadas;  todas as trocas de fraldas recheadas, ora pelo número um, ora  pelo dois; as assaduras amenizadas com pomadas; as brincadeiras no chão, as risadas gostosas;  os gritinhos-surpresa; as leituras de livrinhos;  o pega-pega em volta da mesa e no quintal; os choros de manha,  os “dodóis”,  injeções,  as festinhas de aniversário, o nascimento de cada dentinho e a troca deles depois...
Um misto de prazer,  compromisso,  cumplicidade e interação formava esse nosso mundo. Não sei bem se era eu quem brincava com eles, ou se eu era o brinquedo deles. Que delícia!! [...]
Empolguei-me tanto que esqueci  de contar que eu não estava sozinha nesse ambiente. Além do maridão-corujão,  havia os apaixonadíssimos  avós paternos e a tia que  não arredavam o pé. Mesmo assim,  nesses primeiros anos, eu optei por ficar ao lado e partilhar cada detalhe do crescimento e desenvolvimento dos meus rebentos.  Aquele momento que eu estava vivendo era único e eu não queria, em hipótese alguma,  perder.  Os outros verbos que esperassem... que entrassem na fila!!
Quando eu senti que estavam menos frágeis, mais crescidinhos,  já sabiam falar, contar “causos”, pedir ajuda, obedecer...  Abri  minha gaveta e busquei  meu antigo sonho e o vesti. Ainda me cabia, olhei no espelho e enxerguei  as conquistas a realizar que, pacientemente me aguardavam. Agora sim,  dava para conciliar as coisas, apesar de estar consciente de que tal decisão  acarretaria-me  múltiplas funções.
Foi difícil desvincular da rotina, doeu muito, pois eu já me habituara a ela. Primeiro fui trabalhar, em seguida voltei  a estudar, fiz faculdade e formei-me professora. Comecei a lecionar desde 1993. Meus pequenos ficaram com os avós paternos. E não poderia ser melhor.  Só assim eu conseguia concluir meu curso, sabendo que eles estavam em excelentes mãos, com pessoas que também os amavam e os priorizavam.  Os avós são mesmo anjos de plantão, eu sou testemunha disso...
Hoje, aos 49, ainda na batalha da sala de aula e de olho na aposentadoria, sei  que se não houvesse feito aquela “pausa” de sete anos, eu já estaria aposentada, pois meu primeiro registro em carteira foi aos 14 anos.  Contudo, não me arrependo.  Valeu a pena  por eles, por mim, por nós, pela nossa família e esse valor não há preço que pague!!
Zizi  (mãe orgulhosa do Danilo e da Patrícia)

10 comentários:

  1. Lindo texto, Zizi. Como sempre. hehehe Realmente vc fez uma ótima escolha, valeu muito a pena ficar estes sete anos com seus filhotes, tenho certeza disto. É uma fase que não volta mais e dá tantaaaaaaaaa saudade. bjss

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  2. Zizi

    Com certeza, sua escolha fez uma diferença enorme na vida dos seus filhotes. Parabéns querida pelo texto e pela coragem.

    Beijo

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  3. Noooossa, Zizi, não pode mesmo haver maior declaração de amor de uma mãe a seus rebentos do que doar a eles seu tempo integral... Com tudo que isso representa, incluindo aí,creio, compreensíveis e passageiros momentos de frustração, porque criança quer monopólio de mãe, né?! E tem hora que caaansa...

    Poxa, li e reli bastante seu texto e fiquei muito comovida, porque sentei aqui pra escrever o meu e fiquei meio murcha, porque não pude ficar com os meus, tive de voltar logo pra senzala. Quanto mais eu te lia, mais me emocionava, seu escrito emana uma ternura tão forte que eu tô aqui desmontada!!! Esse 7º parágrafo então... foi uma torrente, não foi só uma gota d'água não!!!!

    Ai que lindo, Zizi, um big beijo procê e a sua tchurminha!!!

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  4. Ahh, Zizi, que gostoso você ter conseguido ficar pertinho dos seus filhotes!! É meu sonho...eu disse num post da Dequinha que meu sonho era poder parar de trabalhar para poder cuidar do Henrique. Não que eu não goste do meu trabalho, mas preferia ficar com ele e acompanhá-lo em todos os tratamentos.
    E você foi muito corajosa quando optou por voltar a estudar! Eu, sinceramente, se tivesse que fazer uma faculdade agora, acho que não faria, nao...adorei seu relato.

    Beijocas

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  5. Cris Happy...sim dá saudade, principalmente agora que eles crescem e criam asinhas kkkk
    Obrigada por gostar.

    Mariuza... qualquer escolha que fazemos não é fácil, seja para ficar ao lado, seja para deixá-los com alguém. Sempre há um preço, mas eu preferi pagar o preço (Dificuldades financeiras e outros mais...), achava-os muito frágeis, morria de medo que acontecesse algo, havia muitos cachorros no quintal(que não eram meus)e com eles "pequetiticos", ai... eu não confiavam MESMOO!! Obrigada por gostar;)

    Else...você tem razão, a questão do monopólio faz parte do preço que pagamos, mas eu me vingava (hehe!!): eles também eram MEU monopólio!! kkkkk Obrigada por gostar do meu escrito. Fico feliz em poder tocar as pessoas.

    Simone, o meu sonho de fazer faculdade sempre existiu, apenas eu o adiei porque outras prioridades cortaram a frente. Se eu não houvesse aproveitado aquele momento , depois dos sete anos, talvez não o tivesse feito mais. Isso iria me tornar frustrada, com certeza. Nos dias atuais, os filhos se adaptam melhor a essa nova realidade: da mulher também trabalhar. Eles sabem que o que vale é a qualidade da relação e não a quantidade de tempo juntos. Apesar que isso não os impede de sentir falta e saudades...mas isso é positivo;)) Pode ter certeza de que você fez o melhor e o que é certo. Obrigada por gostar da minha história;)

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  6. Zizi, não há sombra de dúvidas de que fez a escolha certa! Sua família, especialmente seus filhos, agradecem, e é a melhor prova de que tudo pode ser adiado (e um dia recompensado) quando se está em jogo a família. Parabéns! Beijos.

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  7. Zizi,
    Sei que a pausa que fez na sua vida profissional foi muito válida para seus filhos. Hoje sou bombeira, mas poderia trabalhar como pró, afinal minha escala permite. No entanto, sempre desisto de voltar pra sala de aula porque sei que o meu tempo com Cauã diminuirá.E não é isso que quero. Um dia quem sabe...

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  8. Zizi, com certeza valeu a pena! Sua história é linda e cheia de muito amor!! Parabéns!

    Bjos

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  9. Que linda sua história, Zizi! Eu admiro as mulheres que além de trabalhar tem a difícil tarefa de conciliá-lo com a vida de dona-de-casa e mãe. Não deve ser nada fácil. Eu apenas trabalho, estudo e encontro quase tudo pronto em casa. É claro que ajudo minha mãe no que posso também. Mas às vezes me pego imaginando como seria se ainda tivesse voltar do trabalho no fim do dia e ter de cuidar de casa, marido e filhos! Como eu iria preparar minhas aulas? Eu me pergunto! rs Bjos!

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  10. Dequinha, eu casei-me muito cedo: aos 20 e sabia que seria mãe logo porque achava um tédio não ter logo os frutos. Fiquei bastante tempo com eles sem trabalhar fora. Se reclamam é por excesso porque até para ser coruja, eu exagero rsss.

    Dani, se puder ficar somente um período longe, ao invés de dois é melhor, tanto para ele quanto para vc. Muito tempo longe perdemos o controle da situação, os outros acabam interferindo mais do que deviam na nossa criação e educação...

    Maria, obrigada pela força!!

    Clécia, quando assumimos a maternidade e queremos continuar com o trabalho, acumulamos funções e alguma delas (com certeza)não fica do nosso gosto. Geralmente é a casa que paga o pato kkkk. Obrigada, linda.

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