sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sou mãe e minha feliz missão na Terra é construir, é defender!


Eu sofri duas vezes o fato de ter que deixar o filhote para trabalhar. Comecei a trabalhar quando Cauã ainda tinha cinco meses de vida e mamava feito um bezerrinho. Acabara de passar num concurso público, provisório, e assumi a vaga, antes que alguém assumisse por mim. Foi terrível. Eu deixava minha criança em casa para cuidar de... crianças numa creche. Era um sofrimento, para mim, acalentar crianças chorosas enquanto a minha estava em casa, com o pai e sem o meu peito, sem o olhar cúmplice de mãe e filho na hora da amamentação. Ele teria que se virar com o pai, a mamadeira e o leite materno requentado. Cansei de sair da sala de aula para chorar no banheiro. Chorar pelo leite derramado, literalmente; pela saudade do filhote; por não ter minha mãe por perto; por ouvir choro de criança e lembrar do meu pequeno, em casa, com o pai,  e sem o meu peito! Foi assim durante as primeiras semanas até que me acostumei e sair de casa já não era tão ruim.

Foi então que fui convocada em outro concurso público, dessa vez teria a tão sonhada estabilidade financeira, e me preparei para fazer todas as três etapas. Depois de aprovada em todas, só restava aguardar. Aguardar e sofrer, por antecedência, outra separação. E essa foi, foi... traumatizante para mim. Primeiro  precisei "tirar o peito" de Cauã, já que poderia ser chamada a qualquer momento e não queria que o desmame fosse assim, de forma brusca. Então, fui tirando aos poucos e pedaços de mim foram juntos, acreditem! Enfim, fui chamada dia 21 de dezembro de 2009 para fazer o curso de formação, durante nove meses, à 100 km de distância de meu filho, que estava com 1 ano e dois meses. Eu sabia que seria difícil, só não sabia que seria tãããããão difícil.Nas primeiras semanas eu chorava só em ouvir as palavras família, filho, mãe. Eu chorava, mas chorava muito. Era uma dor, uma angústia no peito. Dessa vez não se passaram algumas semanas até eu me acostumar com a ideia. Eu, simplesmente, chorei os nove meses de curso.

Eu passava a semana toda longe de meu filho e só aos finais de semana  voltava para casa (casa da sogra, a grana, durante o curso, era uma mísera bolsa de estudo). Isso quando não tinha aula aos sábados (só durante dois meses que não tive), ou quando ficava "de serviço". No meio do curso, já não aguentava mais (e não podia desistir, por Cauã) acordava quatro horas da manhã, assistia aula o dia todo, pegava o buzu de volta, fardada (um perigo!), só pra dormir em casa. E era dormir mesmo, porque eu não aguentava mais nada. E no outro dia, começava tudo de novo. Mami, preocupada comigo, resolveu levar Cauã para minha cidade natal (lá se vão mais 500 km de distância) e eu passei, quase um mês sem ver o meu filhote. Só sabendo notícias suas... e chorando, chorando.

Hoje sou bombeira militar, meu "escritório" é a Bahia.  Há pouco tempo comecei a trabalhar em uma cidade 102 km distante de meu filhote. Meu bisculisco passa 24h sem a mamãe, com o Superpai, sem meu peito, e compreende que "mamãe vai tabaiá no bombeiro e depois volta". E volto, feliz da vida para ficar três dias só curtindo o meu filhote. Acho que valeu a pena...
(Dani Lino - mamãe, bombeira , de Cauã)

12 comentários:

  1. Ao ler seu post fiquei aqui vendo o filme da minha vida quando voltei ao trabalho e deixei Sofia pela primeira vez na escola aos 5 meses...chorei copiosamente...sofri, mas com o tempo a gente entende que é necessário e afinal de contas fazemos isso por eles também...e podemos ser profissionais além de sermos mãe...
    adorei o blog...

    bj

    http://soumaepravaler.blogspot.com/

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  2. Nem preciso dizer que chorei muito ao ler o seu texto e logo no começo... O leite derramado doi mesmo, pois nos faz sentir tiranas, roubando até o alimento (e todo o resto) de nosso filhote, o estar junto. Mãe deveria ser uma profissão mesmo, única, e o salário deveria ser o maior do mundo, pois tudo gira em torno disso, creio. Nos desdobrar é testar o tempo todo como anda o nosso psicológico! Brabo...!!!

    Fico imaginando que tipo de excreção tem na cabeça dessas vacas que abandonam recém-nascidos e não me conformo! Mataria, sinceramente, se visse uma fazer isso. Chorei demais ao ver ontem a reportagem em que mais uma vagabunda (não tem outro nome, me perdoe) abandonou a criança na rua, pelada, dentro de um saco e que foi encontrada por uma mulher que passeava com seu cachorro! Imagino o frio que o bebê sentiu, visto que eu, em casa, agasalhada, ainda sentia!

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  3. Continuando...

    Linda a passagem em que ter de desmamar Cauã foi tirando uns pedaços seus... Acho que fico adiando o desmame de Miguel porque temo que sentirei isso tb, exatamente assim. Choro só de pensar que não verei aqueles olhinhos atentos me fitando e me fazendo carinho enquanto mama... grato... Ai, ai, ai... vou sofrer mais que ele, acho!

    Mais um motivo para eu considerar vc uma guerreira, amiga! Parabéns por passar por tudo isso e sobreviver! Não sei se eu suportaria ficar um dia longe do meu filho, quem dirá um mês!!! Nooossa!!! E que bom que vc pode contar com o pai do Cauã, porque se fosse aqui eu estaria na merda, junto ou separado do pai de Miguel... Nunca senti que pudesse verdadeiramente contar com ele e isso tb doi muito, porque fere não o meu lado mulher, de ex-esposa, mas fere muito meu lado MÃE! :-(

    Beijos, amiga, e lindo e emocionante post, com uma lição linda de superação e força! E sem perder a ternura...

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  4. Amiga, amei seu post. Não sabia que vc agora era bombeiraaaaaaaaaaaaa. Que chique ! Adorei saber disto e tenho certeza que seu filhote compreenderá sua ausência no futuro. bjssssssss

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  5. Dani, qdo assumi meus cargos no Estado morei a 500 km de distância dos meus pais e namorado e chorava muitooooo. Imagino vc, longe do seu filhote. Bjs

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  6. Dani, sua história arrepia! Conflito demais! Não sei se aguentaria! Mas parabéns pela guerreira que você é, mesmo com tantas dores, foi à luta, batalhou, superou!!

    Bjos

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  7. Dani, sua luta não acabou, mas já desde o início dela você é uma vitoriosa!! Tá certo que se paga um preço por isso, afinal temos que manter o bezerrinho e a nós mesmos, o trabalho não é opção, é sobrevivência. Parabéns pela sua determinação e coragem. Sua história é tecida com fios de fibra, amor e coragem: É FOGO!! (literalmente kkk)

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  8. Pura emoção aqui...sem palavras.
    Mulher guerreira vc...

    Beijo

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  9. Meu Deus, Dani, seu curso durou o tempo de uma gravidez!! Misericórdia, que odisséia, com acento mesmo!!! Vou ficar desidratada aqui, mas que coisa você, que mulher valente! Lembrei do Che "tem de endurecer sem perder a ternura", "fazer das tripas, coração", pra garantir uma vida melhor pro seu filhote...

    Ai ai, eu não teria essa determinação não... Que angústia, Dani, uau, você passou sua história pra gente de um jeito muito lindo!!!

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  10. Impressionante sua história, Dani! Nem de longe eu imaginava que você fosse bombeira...
    Menina do céu, acho que morreria se tivesse que ficar 1 mês longe do Henrique!! Que guerreira você é! Parabéns, querida....tô boba até agora....

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  11. Meninas,
    Muito obrigada pelas palavras. Nem eu sabia que era tão forte assim, até passar por tudo isso. Se hoje sou bombeira é por causa de Cauã. A minha força em continuar veio dele. Foi por ele...
    Bjs

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  12. Nossa! Como deve ter sido difícil para você, Dani! Aliás, deve ser difícil ainda, não? Mas ficar um dia longe e três perto com certeza torna tudo um pouquinho menos angustiante.

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