sábado, 6 de agosto de 2011

As palavras e seu trajeto


 


Tudo começa com um choro, essa sirene que anuncia a chegada do bebê. É a primeira manifestação da linguagem. A princípio, esse ruído harmonioso cheio de significados e intenções parece ter uma nota só (looonnnga!). Mas, o instinto materno vai aos poucos decifrando todos os tons e códigos,  em  cada situação em que ele aparece: fome, manha, dor... Chegando ao ponto de captar e compreender até mesmo aquele choro que ficou preso, acuado.                                                       
Objetivo número um concluído: primeiro contato ocorrido com sucesso. Yesss!
Depois de superada a fase um, vem o próximo desafio: diálogos em forma de monólogos vão tentando provocar uma reação nos pequeninos. Quem sabe,  aquelas palavrinhas distorcidas e tão cheias de afeto que emitimos, conseguirão encorajá-los para que as repitam? Tentativas é que não faltam. Não custa nada insistir.
Já conseguimos a atenção deles, pois olham-nos fixamente, sorriem, mexem a boca, tentam e soltam alguns ruídos guturais. Já é um começo. Vibramos.  Insistimos. Queremos mais. Simpatias são sugeridas. Por que não?
E assim são consumidos minutos e minutos com tentativas incansáveis acompanhadas de  uma incrível expectativa de se ouvir a primeira palavra proferida daquele Serzinho tão especial!
Um belo dia,  consegue ir mais além e articular a primeira palavra. Sai meio indecisa, meio tremida, incompleta. Não tenho certeza se foi “papai” ou “mamãe” porque ambas estiveram sempre juntas.  Só sei que depois disso, deu-se início a uma avalanche delas, obedecendo à  sequência: sílaba, palavra, frases curtas, períodos compostos... Depois: decisões, argumentos e contra-argumentos, reflexões,  questionamentos, relatos, sugestões, críticas, elogios,  determinações ...etc.  [...]
Fecho os olhos para ingressar numa rápida viagem pela memória.  Ainda ouço as palavras que povoavam e davam muita vida a esses cômodos: os gritos, as brincadeiras, as provocações, as conversas banais, a cumplicidade, as simulações de briga, as músicas que cantavam juntos, os pequenos pedidos que iam desde um acordar à noite para pedir algo,  ao simples “Bênção, mãe!” , ao despertar. Fazem falta aqueles zunzunzuns que ecoavam do amanhecer ao anoitecer e preenchiam a  casa de um canto a outro.
Hoje, 27 e 25 anos depois, Danilo e Patrícia,  já adultos, passaram de passageiros a condutores e estão construindo seu próprio itinerário.  Eu, cá no meu cantinho, olho para o telefone na esperança de que um “trimmm!”  traga, pelo menos, dois dedos de prosa. É Tão bom ouvi-los!
                                                          (Zizi Cassemiro, mãe-fã do Danilo e da Patrícia)

7 comentários:

  1. Ai, Zizi...
    Muito lindo seu texto. Fiquei emocionada e com um aperto no coração... Meu Cauã fala pelos cotovelos e tem hora que me falta paciência, mas sei que um dia aguardarei também ansiosa o "triiiim" do telefone só para ouvir dois dedinhos de prosa. Adorei!

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  2. Zizi, você escreve bem demais! Amei! MUito poético!

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  3. Zizi,
    Como a Dani, me emocionei demaaaaaaaaaaaaaais com seu texto.E dê uns puxões de orelha nos dois se por acaso um dia esse trimmmm fique muito silencioso hahahah
    bj

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  4. Zizi, como sempre, seu texto me emocionou! Emocionou pela forma majestosa como descreve cada momento... emocionou porque aqui em casa até hj Miguel tb associa a palavra papai à mamãe (o que torna ainda mais difíceis e confusos os meus dias)... emocionou porque eu pedi a Deus para que me dê saúde para que eu possa um dia, assim como vc, escrever sobre e para um Miguel de 25, 27 anos... Enfim, seu texto nos cerca por todos os lados e aproveita cada emoção, até aquela mais fugidia... Obrigada por isso, e por todo o resto, sempre. Amo vc, querida, e aposto como seus filhos tb. Ahhh, e tb o netinho! :-)

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  5. Zizi, como sempre, seu texto é cheio de encantos! Essa última frase: "É tão bom ouví-los!" Demais!!!
    Lindo texto!
    Parabéns! Bj

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  6. Lindo demais! Um dia também vou querer loucamente o Henrique pelo telefone dizendo que está tudo bem...emocionante!

    Beijos, Zizi ;)

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  7. Zizi, o itinerário das suas lembranças mexeu muito comigo! Nossa, muito bom!!!
    Beijo procê!!!

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