quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entre raios, relâmpagos e trovões



Era um dia comum, com sol e muito calor.

O bebê, uma menina de cerca de 6 meses, brincava com seus bichinhos de borracha. Havia algo mais delicioso do que colocá-los na boca e mordê-los e babá-los e deixá-los cair e pegá-los e apertá-los?

A mãe, alguém ainda em aprendizado do seu ofício materno, apenas observava e se encantava com a cena.

Às vezes, havia um resmunguinho aqui, uma risadinha acolá, mas tudo seguia bem.

Eis que chegou a amiga de todas as tardes, a sonequinha. A mãe, sempre exercitando as orientações recebidas da avó, preparou o alimento – uma apetitosa mamadeira, trocou a fralda, arrumou o berço e deixou em alerta os bichinhos de dormir.

O bebê mamou, ainda que não se decidisse se dormir ou se alimentar. Os olhos pesados,  insistiam em fechar... Ao fim da luta contra o sono, a criança perdeu e se rendeu.

A cena de tranquilidade só mudou quando as primeiras nuvens surgiram. Com elas, veio também o vento.  Uma tempestade se anunciava, talvez trazida pelo calor intenso.

Em alguns minutos, o cenário de luzes e cores transformou-se: nuvens escuras, vento intenso, portas batendo, cortinas voando, trovões, raios e relâmpagos... E chuva, chuva, chuva...

A mãe fechou as janelas, aconchegou a criança no berço e ficou à espreita. Embalada pelo doce dormir da filha, viajava nos pensamentos e tentava fugir dos sons daquele temporal.

De repente, um forte trovão quebrou o sono do bebê. Ela se assustou e ficou aos prantos. No reflexo maternal, a mãe tomou-a nos braços e colocou-a no peito, do lado de seu coração.

Mãe e filha escutaram o mesmo som: a criança, um som familiar, que a acompanhou por 40 longas semanas  e lhe fazia acalmar; a mãe, o próprio coração, lhe dizendo que aquele ser confiaria eternamente nela.

Então, os papéis inverteram-se: a filha, amparada pela mãe, sentindo-se protegida, parou de chorar. A mãe, debulhando-se em lágrimas, percebeu que era mãe - e isto bastava para a vida inteira.

A criança voltou a dormir e, tempos depois, a chuva cessou. Mas aquele momento não. Ficou gravado para sempre na memória, inesquecível.

 (Por Nina Marinho, mãe da Marianinha)

PS- Resolvi contar essa história porque foi nesse momento que me dei conta de que aquele serzinho se sentia seguro comigo. Eu era quem lhe confortava. Acho que foi quando percebi que deixei de pedir segurança para dar segurança. Foi o “clic” que faltava para eu entender o que é ser mãe.

9 comentários:

  1. Nina, me emocionei com o seu texto...achei lindo!!
    É bem isso mesmo, a gente cuida, educa, ama e essas criaturinhas fofas nem imaginam o tamanho da importância deles nas nossas vidas!!
    É realmente de aquecer o coração!

    bjs
    http://soumaepravaler.blogspot.com

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  2. Nina

    Amei a partilha desse seu momento inesquecível! Que sensibilidade ao descrevê-lo...parabéns!

    Beijo

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  3. Lindo, maravilhoso, emocionante! Fiquei sem ar... Você conseguiu traduzir com palavras um momento tão incrível... Parabéns, amiga!

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  4. Nina, que emocionante! Seu texto mexeu muito comigo, porque eu tenho pavor de barulhos grandes, como trovão, tiro, fogos de artifícios, acho que devo ter passado por um medo desses na minha infância, pois até o barulho do estouro de uma bexiga me causa susto e se eu souber que vai estourar, eu tapo o meu ouvido.
    Fiquei realmente emocionada!
    Parabéns pela grande mãe que você é! Bjo

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  5. "Era um dia comum, com sol e muito calor." As coisas incomuns acontecem em dias que aparentemente são comuns. Esse seu texto é uma viagem poética no qual ficamos na janelinha apreciando a paisagem.
    Dizem as boas línguas que mãe é um anjo da guarda que está na terra para cuidar dos pequenos e num momento de tensão você se deu conta disso. O 4º parágrafo arrepia!

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  6. Nívea, eu já tinha lido seu texto aquele dia que não consegui postar os coments porque o Blogger estava fora do ar...mas li de novo e de novo e de novo. Ahhh, que coisa mais linda!

    No words ;)

    Beijooooo

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  7. Uia, que narrativa porreta, sô!!
    O suspense foi crescendo, teve clímax e final feliz!!! Muito bom, Nívea!! Bjim procê!!

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  8. Obrigada, meninas!!!
    amei os comentários... O ego fica lá em cima!!! kkkk
    Bjs

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