sábado, 10 de setembro de 2011

Roupas que marcaram uma época

 A última surra que a minha mãe me deu  foi por causa de roupa, eu tinha dez anos. Fazia três dias que ela tinha ganhado criança, mas mesmo assim quis me obrigar a usar uma roupa que eu não queria. Como baguncei toda a mala (nessa época não tínhamos guarda-roupa) ela se levantou e me deu uma surra.
Pensando sempre nesse  episódio marcante, fui percebendo aos pouquinhos  que o Mateus se parece muito comigo em relação  à escolha das roupas. Desde pequeno, não gostava de camisa gola pólo, nem de  camisa aberta, disse que só usaria na terceira idade, tinha que ser camiseta. Também não queria que os lençóis da cama dele fossem de bichinhos, bolinhas, flores e as cuecas também não deveriam ter desenhos.
Um dia estávamos  na igreja e percebi que ele estava chorando porque o cabelo dele ficou muito curtinho e deixava a testa muito de fora, então  ficava puxando o cabelo e as lágrimas caindo. Isso foi muito marcante, como ele era bem pequeno ainda, sete ou oito anos mais ou menos, na próxima ida ao cabeleireiro, pedi que deixasse o cabelo mais  cheinho na frente.  Deu certo, até hoje o cabeleireiro é o mesmo. Também nisso puxou a mim, tenho mania da mesma sorveteria, da mesma pizzaria e por ai vai.
Diante de tudo isso, Sinto  que se eu fosse agir da forma como minha mãe agiu, os conflitos seriam enormes, não a culpo por isso, pois tudo era muito mais difícil naquela época, tudo que ela comprava a gente tinha que gostar e pronto, se colocasse um defeito ela tomava e dava para outro.
Pensei muito em tudo que eu passei por causa das roupas que eu não gostava, mas tinha que usar assim mesmo.  Por isso, decidi que não iria agir igual a minha mãe, as roupas dele é ele quem escolhe.  Esse ano ele escolheu pela primeira vez, uma camisa aberta,  xadrez, linda! Não esperou chegar a terceira idade! Fiquei muito feliz!!
Quanto à timidez, ele herdou um pouco do pai, um pouco da mãe, gosta de ler, saiu aos dois, a insegurança é minha, a mania de limpeza é minha, mas é certinho igual ao pai, tem que desligar o PC se não está usando, tem que apagar a luz se não está no recinto e por aí vai. Mas possui uma característica marcante do meu pai, ele não gosta de determinada comida apenas pelo olhar e diz que não gosta, sendo que nunca provou. Ele não gosta de bolos, doces, pudins, sobremesas, pamonha, canjica, aliás, nunca comeu nada dessas coisas a não ser, bolo de chocolate, sem recheio e sem cobertura, só gosta de coisas salgadas. Nisso, é o meu pai purinho. Quando vai à alguma festa de aniversário, nunca come bolo e tem mais, geralmente as crianças gostam de lamber a lata de leite condensado, ele nunca provou, parece que tem nojo! Difícil, esse meu filho!
Quanto ao Elias, esse é pura alegria, desembaraço, doçura, não tem tempo ruim. Esse é mais pai do que mãe.
                                                                  ( Maria José - mãe de  Mateus e Elias)

6 comentários:

  1. Poxa, Maria...você sofreu quando era criança, flor? Eu não sei quantos anos você tem, mas pelo que disse, "naquele tempo", tudo era mais difícil e parece que as mães eram mais duronas mesmo...mas que bom que você agiu diferente com seus filhos!!
    Eu estou aqui tentando saber no que o Henrique puxou a mim e no que puxou ao pai, ou ao avô e está difícil encontrar alguma coisa que tem a ver comigo, viu! rsrsrsAcho que só a brancura mesmo...kkkk

    Beijo grande ;)

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  2. maria José, seu texto me remeteu à minha infância: eu era tb assim, não gostava que escolhessem tudo o que eu tinha que usar, chorava quando cortavam meu cabelo curto, há alimentos e frutas que não como só de olhar (Imagine: 49 anos sem tomar caldo de cana porque tinha nojo da cor e nesses dias resolvi experimentar e AMEI!!)Vejo tb muitas dessas coisas nos meus filhotes, daí lembro-me de novo de mim e de quanto a minha mãe teve que batalhar para me convencer disso ou daquilo. A impressão que se dá é que apenas mudamos de endereço; as histórias vem e vão, repetem-se sempre. Isso não é o máximo? Somos todos diferentes mas com tanta coisa em comum!! Gostei de ler seu texto, senti-me muito à vontade.

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  3. Maria

    Penso que nosso maior desafio como ser humano é a capacidade de melhorar e não repetir num ciclo vicioso a atitude dos nossos pais. É claro que muitas coisas maravilhosas aprendemos com eles, mas estamos vivendo e educando nossos filhos em um época diferente...é preciso rever muitas coisas.Gostei do seu texto!

    Beijo querida

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  4. Simone estou prestes a completar 48 anos, por isso, eu disse "naquele tempo" porque já faz um tempinho mesmo! rsrsrs... Se eu contar mais detalhes, você chora, mas o importante é que tudo isso já passou!

    Zizi, que coisa boa! Essas histórias tão incrivelmente nossas, mas tão parecidas, parece mesmo que só mudamos de endereço!

    Mariuza, é mesmo interessante não repetir o erro, mas pensando também em tudo de bom que aprendemos com nossos pais, afinal, como vc disse: vivemos em outra época! Uma delícia tudo isso!

    Obrigada pelo carinho!

    Bjos

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  5. Maria, querida, muito interessante o seu texto, até mesmo pelo caminho que vc escolheu percorrer e que saiu totalmente do senso comum! Parabéns!

    Que triste vc ainda se lembrar desse episódio da sua infância e tb da surra, mas que bom que vc apanhou pouco, só até os 10 anos! Eu acho que apanhei até os 35, se bobear!!! kkkkkkkkkkkkk

    Que bom que seu filho é diferente e tem o estilo dele, sem precisar seguir modelos pré-estabelecidos! E que bom que vc se tornou uma mãe beeeeem mais compreensiva do que a sua o fora! Tb tenho tentado ser assim, mas tenho medo de inevitavelmente cometer os mesmos erros! Que Deus me ajude! E que barato a camisa xadrez tê-lo convencido a usá-la beeeeem antes da terceira idade! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Beijos mil.

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  6. Dequinha, os erros são inevitáveis! Se eu pudesse recomeçar, faria muito mais coisas diferentes, mas temos que seguir em frente, tentando fazer sempre melhor.
    A camisa xadrez é um episódio inédito, é uma camisa linda, de marca um pouco mais cara, mas ele não sabe, não quer que compre coisas mais caras, mas é porque nesse caso estava valendo a pena, pensa que é uma camisa como outra qualquer, mas o importante é que ele gostou!!
    Me sinto uma grande mãe nessas horas, como ele não gosta de ir á loja, a loja vem até ele, eu trago algumas e ele escolhe!
    kkkkkkkkkkkkkkkkk
    Obrigada amiga pelo carinho!

    Bjos

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