segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A mamãe só está cansada!


"Finzinho da tarde, no ônibus, dois bancos à frente, uma menininha de cabelos cacheados sorri pra mim, muito meiga. Devia ter uns três anos de idade. Ao lado dela, sua mãe cochilava. Quando ela percebia que a mãe fechava os olhos, ela se levantava no banco.

Numa dessas, a mãe acordou. Deu um tapa na cabeça dela, falou num grito: "Fica quieta aí e senta!". Ela chorou um pouquinho, lágrimas escorreram. Meu coração apertou. Tive vontade de fazer algo, mas achei que era muita invasão da vida alheia e fiquei quieta. Dali a algum tempo, a mesma cena: a mãe dorme, a menina, entediada com o trânsito parado, aproveita pra levantar do banco um pouquinho, buscando as vozes de umas crianças que estavam na parte de trás do ônibus.

A mãe dessa vez a pegou pelos cabelos com força, deu um puxão que fez a menina cair pra trás, e, como se não bastasse, um "croque" na cabeça. Ao mesmo tempo, a voz dela saiu forte, com raiva. "FICA QUIETA AÍ, JÁ NÃO MANDEI!?".

A menina chorou forte. Enquanto chorava, as lágrimas escorriam e ela fazia um olhar muito, muito triste. Magoada, mesmo. Levantei na hora que a mãe falava "CALA A BOCA, SE VOCÊ NÃO PARAR DE CHORAR VAI APANHAR DE NOVO. QUE MENINA FEIA!". Quando eu vi já estava ao lado das duas. Abaixei e falei com a menina, que chorava muito. "Não chora não, tá? A mamãe só está cansada, ela quer dormir um pouco e descansar".

Olhei pra mãe, que pareceu envergonhada por eu estar interferindo, falou comigo com voz normal: "Ela fica levantando, tenho medo dela cair e se machucar". Respondi: "Eu sei, mas ela só estava olhando as crianças lá atrás.". Ela se dirigiu à menina, com a voz menos irritada. "Tá, agora pára de chorar, vai, já passou".

A menina soluçava, chorava alto. Eu falei com a mãe "Você tá cansada, né? Dá pra ver. Mas sabe, acho que ela só está meio cansada também, igual você". O olho da mãe encheu de água. "Acordei muito cedo hoje, trabalhei o dia inteiro, to morrendo de dor de cabeça, e agora ela não para quieta"... A menina berrava, lágrimas escorrendo... "Eu imagino.... Tem dias que é complicado mesmo... Mas eu acho que ela só está querendo a sua atenção", arrisquei. Pra minha surpresa, a mãe pegou a menina no colo e ofereceu o peito pra ela na mesma hora "Quer mamar, filha?".

Apesar do meu histórico de Mamífera, que amamentei até os 4 anos e pouco do meu filhote, me surpreendi, pois não é comum ver crianças assim maiorzinhas mamando em público. A menina começou a mamar no peito e parou de chorar na hora.

Enquanto mamava fazia carinho no rosto e no cabelo da mãe que, claro, desabou chorando. Apertou os olhos, agora as lágrimas escorriam no rosto dela, que depois começou falar meio baixinho. "Desculpa, filha, desculpa a mamãe, filha, desculpa", ela falava, enquanto fazia carinho na cabeça da menina, bem no lugar onde ela tinha batido, e dava vários beijos na pequena, que mamava e olhava pra ela. Em uns 5 minutos a menina tinha dormido no peito, mas a mãe não parava de fazer carinho e beijá-la. Quase perdi meu ponto, na hora de levantar ainda olhei pras duas e a mãe me falou baixinho: "Obrigada...".
Nem precisa falar que eu comecei a chorar também, e tô chorando até agora, né? Tem horas que só o que uma mãe cansada precisa é chorar um pouquinho também..."
Este lindo texto é da Áurea Gil, e se você terminou de lê-lo com lágrimas nos olhos, significa que entendeu a mensagem, e, mesmo sentido um pouco de ressentimento, sabe que, juntas, somos capazes de promover um bem maior ao coletivo materno!"
Recebi esse texto através da Luciana Thompson, via grupo, e depois o recebi também, via Facebook, da minha amiga Claudine Alvarenga, aí resolvi trazê-lo aqui para o nosso blog porque quantas e quantas vezes não nos sentimos assim tão cansadas, esgotadas, e por isso nossa paciência foge! Depois nos sentimos culpadas... nos punimos... e não há nada que alguém de fora possa falar que nos fira mais do que nossa própria culpa, né? Nos crucificamos! No fundo, queríamos saber ter paciência e doçura mesmo caindo de sono, com dor de cabeça, com problemas, exaustas! Nos esquecemos de que somos humanas e não saídas de desenhos animados, com direito a superpoderes e tudo! 
Que aceitemos nossas limitações, nossos erros, e que não nos falte coragem para pedirmos desculpas quando nos excedemos! Filho é sempre maravilhoso e entende, releva, perdoa, graças a Deus! E que também saibamos ser doces na abordagem quando presenciarmos situações como as descritas! Um recorte NUNCA vai dar o direito a ninguém de julgar o que a outra é como mãe! Que em vez de jogarmos pedras, que a gente possa e saiba atirar FLOR, OMBRO, CARINHO, COMPREENSÃO! É disso, também, que uma mãe, tão cansada, precisa!

(Texto trazido pra cá pela mamãe Andreia Dequinha - mãe do Miguelito)

6 comentários:

  1. Noooossa!!! Eu sei muito bem o que é isso. Com a criança especial, então, nem se fala...
    Esse texto me lembrou o As Crianças Chatas da Lispector. Muito bom !!!

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    1. Não me recordo de ter lido esse texto da Clarice, mas vou procurá-lo, pois AMO essa mulher! Beijos e que tenhamos sempre mais boa vontade do que cansaço, né?

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  2. Sensacional a reflexão sobre o mau julgamento que fazemos das pessoas. Texto excelente!

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    1. Eu também adorei e foi bom pra gente refletir... Quantas vezes reconhecemos falhas geradas pelo cansaço em excesso em nós, mas julgamos que nos outros é maldade, é outro motivo?!? Tudo muito complexo demais pra julgar...

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  3. Ai,meu Deus,deu vontade de dar um colo pra essa mãe.Amo crianças,e só mesmo uma pessoa insensível pra não amá-las...mas, às vezes, elas nos tiram do sério. E quando isto acontece, bate um remorso horrível... Como é ruim perder a calma, a paciência com nossos pequenos!Sei lá, gente,mas a independência feminina tem um preço muito alto pra mulher.É uma barra trabalhar fora,em casa e ainda criar filho; nossa... muito desgastante.Bem faziam as mulheres de outrora; ficavam em casa, e os maridos que tinham que bancar tudo. Pobre de nós mulheres, pagamos caro por nossa autonomia.



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    1. De dar pena mesmo... Aqui em casa como me canso, e olha que mamãe me ajuda e muito! Mas me esgoto tentando suprir as lacunas paternas! Também não entendo quem não goste de crianças, de bichos, de idosos. Compro brigas por conta deles, especialmente!

      Queríamos tantos direitos iguais, profissionalmente falando, e ignoramos o quão complicado é conciliar tudo isso com a função de MÃE, né? Só Deus mesmo para nos amenizar desse cansaço tamanho e nos dar sabedoria para lidar com ele e com todo o resto. É sempre muito obstáculo... muita responsabilidade...

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