segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Sinto mais falta do que não tive


Escrever assim, de última hora, e, depois de ler tantos textos lindos que tocaram minha alma, tornou-se uma tarefa um pouquinho difícil. 

Pelo título, acredito que vocês que já conhecem minha história, podem imaginar sobre o que eu vou falar. Fiquei pensando se falaria mesmo sobre isso ou se me limitaria a dizer as coisinhas que são comuns às mamães “normais”. Achei por bem falar sim, pois assim teremos olhares diversos sobre a maternidade. Sou contra a qualquer romantização da deficiência, mas isso está presente no dia-a-dia de quem convive com ela, pois as pessoas, claro que, sem maldade nenhuma, acabam por romantizá-la quando dizem, por exemplo: “Vocês foram escolhidos por Deus”, “Deus não dá o fardo se não podemos carregá-lo”, “Seu filho é um guerreiro e vocês também” e tantas outras frases que ouço quase que diariamente. Confesso que, de certa forma, me confortam, mas a realidade é um buraco que fica muito mais embaixo. Confesso também que, às vezes, me permito romantizar para tentar deixar tudo mais leve e ter um outro olhar em relação à deficiência. 

Dito isso, queria contar do que sinto falta...falta do que não tive. Eu sinto muita, muita falta mesmo de pegar meu bebê no colo logo após o parto e sentir seu cheirinho, olhar com calma seu rostinho, prestando atenção em todos seus detalhes. Sinto falta de amamentar....como eu queria amamentar! Sinto falta de acompanhar seus primeiros passinhos e de o ver cair sentado logo em seguida. Sinto falta de o ver jogando bola com o pai, ou basquete com os amigos, de o ver andar de skate, lutar karatê...Sinto falta de levá-lo nas festinhas de aniversário, deixá-lo lá e só ir buscar mais tarde, junto com os outros pais. Sinto falta também de amiguinhos em casa, de crianças que gostam de brincar com ele de uma maneira diferente, sem ter que correr pra lá e pra cá. Sinto falta até de ser chamada na escola por conta de alguma travessura. São muitas coisas que não tive e que sinto falta.


Por outro lado, tive tantas outras coisas que nem sequer imaginava que poderiam existir! Tantas experiências e momentos únicos vividos com uma criança especial (olha eu romantizando), mas especial não por ser deficiente e sim pela sua essência, pureza, inocência e alma. Mas isso é assunto para outro dia. 

(Simone Maróstica, mãe do solzinho Henrique, 10 anos)

14 comentários:

  1. Pouquinho difícil nada; molinho para uma guerreira como você, que encara diariamente desafios tão maiores! Mesmo assim, agradeço, intensamente, não só por vc ter topado vir aqui, hoje, abrindo seu coração, mas por fazer parte deste time tão especial de mamães especiais e com filhos especiais!

    Me perdoe por tantas vezes ter recorrido às "romantizações" para me referir ao Henry e a você, mas não pense que elas são "da boca pra fora", são sentidas, de coração.

    Fiquei emocionada, só pra variar, com o seu texto, com a dedicação monstra que eu sei que você tem ao seu filhote, e conviver com saudades já é complicado, mas conviver com as daquelas que não vivemos é mesmo complicadíssimo. Falo isso porque sinto muita falta, dentre outras coisas, de ver meu pai sabendo da existência do Miguel e brincando com ele. Mas também sei que os planos de Deus são bem maiores e melhores dos que os que nós fazemos, e que tudo tem um porquê! Um dia, quem sabe, entenderemos tudo, né? Ou não. E que isso nos baste.

    Beijos e amo vcs!!! Obrigada, mais uma vez!!!

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  2. Dequinha, amada índia, não tenho que te perdoar de nada! Falei das romantizações porque, exatamente como você disse no seu comentário, as pessoas dizem da boca pra fora, sem pensar muito, mas eu entendo perfeitamente e talvez eu também iria agir dessa forma. Totalmente normal. Além disso, eu disse que sou contra, mas muitas vezes a uso como uma válvula de escape. Espero que tenha entendido.
    Obrigada pelo comentário tão carinhoso! E acho que entendeu perfeitamente quando eu disse da falta que sinto do que não tive. Imagino o quanto você queria seu pai convivendo com Mig.
    Beijos e também amo vocês <3

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    1. Como tão bem disse a Zizi, em seu comentário: quando a gente acha que já viu de tudo, vem um outro olhar, um outro ângulo... ainda mais o seu, tão especial, ímpar, Índia! Certamente sentir saudade dói, mas acho que dói ainda mais aquela que sentimos do que não vivemos, mas idealizamos, imaginamos. Todos os momentos com Miguel eu a sinto de papai, com ele, do que não viveram. Mas aí vem o conforto, de Deus mesmo, me garantindo que o estar junto nem sempre é o estar perto...

      Beijos.

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    2. Com certeza, minha amiga! Seu querido pai estará sempre com vocês e como eu acredito que a vida não termina aqui neste plano, essa certeza é ainda mais forte pra mim.
      Beijos

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  3. Simone, quando a gente pensa que já esgotou o tema com os relatos das mães, aparece vc e mostra uma nova visao, um outro olhar....e mais profundo ainda do que dissemos aqui: sentir saudades do que não se viveu: esse paradoxo é um alerta para quem tem tanto e não dá valor, para quem não enxerga o que está perto, para quem fica sonhando com futilidades e ignora a essência do ser humano. Simone, essa admiracão por vc e seu lindo Henrique já é de longa data; eu acompanho algumas peripécias desse fofo, tão sensível, que gosta de cantar e aprecia música de qualidade, além de ter palavras exatas para levantar o astral de qualquer um, mesmo com tão pouca idade ele é maduro, encantador, inteligente....sem falar que é lindooo! Amei seu texto, emocionei-me com ele, como aconteceu todas as vezes que li textos seus quando o blog foi iniciado. Parabéns e que Deus ilumine vcs dois.

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    1. Zizi, que comentário mais lindo! Obrigada pelas doces palavras. Eu pensei exatamente isso quando escrevi, de mostrar outro olhar em relação ao tema proposto. Lembro que nos textos antigos eu acabava sempre voltando para a deficiência do Henrique e às vezes isso me incomodava porque parecia que eu queria que sentissem pena de mim. Mas acho que temos que mostrar e falar sobre as diferenças mesmo, não é?
      Mais uma vez, obrigada pelo carinho com o Henry :)
      Beijos

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  4. Parceirinha querida... Quanto sentimento neste texto!!! Muito lindo, verdadeiro e corajoso! Toda mãe realmente tem seus projetos, seus sonhos e você conseguiu traduzir muito bem em suas palavras. Simples assim... bj

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    1. Parceirinha linda, muito obrigada! Sonhos é o que não falta para uma mãe.
      Beijos

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  5. Simone, que doçura o seu texto! tão cheio de encantos, de sentimentos tão profundos!! Parabéns pela guerreira que você é, por ele ser tão especial como você disse, especial na pureza, na doçura, na inocência!! Deus continue abençoando ricamente a sua vida e a dele, concedendo graça e coragem a cada dia!!! ... "E o SENHOR te guiará continuamente..." Isaías 58:11 Bjos

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    1. Mazé, querida, obrigada! Amém!
      Saiba que o Henrique ainda usa a toalhinha que você deu a ele, viu! Ele a leva sempre pra escola da
      Beijos

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  6. Parabéns, que texto lindo e emocionante! A verdade é que temos que agradecer sempre pelas oportunidades e caminhos na nossa vida.

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    1. Obrigada, Alline! Às vezes preferimos questionar 'por que comigo?', mas o melhor caminho é agradecer!
      Beijos

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  7. Si, vc é uma mãe especial! Adoro ler suas histórias. O Henrique é uma benção em sua vida. E Ele escolheu você, pois sabe da sua força e sabedoria. Sinta-se sempre grata por esta honra.

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    1. Cris, tive que conferir se era a Barata rsrs não sabia que a chamava Helena! Amo esse nome!
      Obrigada pelo carinho...e eu me sinto, sim, muito grata a Ele. Beijos

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