domingo, 22 de maio de 2016

Do Purgatório à Plenitude

Se  queremos ter saúde e sonharmos com um belo corpo, precisamos fechar a boca para tudo que nos é agradável ao paladar (doce, pizza, hambúrguer e outros similares...) para comer salada, salada e salada... Uma vez ou outra, algo mais saboroso. Praticar exercícios físicos, até suar camisa, ao invés de ficar jogado na cama,  lendo um  bom livro, assistindo a um filme interessante,  teclando com um amigo ou tirando uma boa soneca...

Para um profissional exercer a profissão desejada, tem que estudar, estudar e estudar... ou mesmo passar por um treinamento pesado que, muitas vezes, requer esforço e sacrifícios... Até aquele saboroso  pão doce, exposto no balcão de vidro da padaria, já sofreu várias sovas para tornar-se  uma guloseima cobiçada por tanta gente... inclusive por mim. 
 
Já li e já ouvi vários comentários sobre a necessidade do sofrimento para se alcançar o aperfeiçoamento. Uma espécie de purgatório, onde as dificuldades são experimentadas de várias formas,  para chegar-se à perfeição. É assim em qualquer circunstância da vida... E para quem é mãe e avó, como no meu caso, esta constatação se encaixa como uma luva...

Ser mãe e ser avó têm sido duas experiências incríveis em minha vida. A primeira foi um verdadeiro purgatório: insegurança, medo, sofrimento... Até hoje, surpreendo-me ao ouvir muitas mães afirmarem que não tiveram problemas, que tudo foi tranquilíssimo... Não, gente, pra mim não foi nada fácil. Às vezes, chego a pensar que sou exagerada; ou então, as pessoas fantasiam esta realidade, porque fomos criadas ouvindo dizer que mãe não tem direito de reclamar de suas dificuldades, de suas dores... Mãe não pode errar e tem que se virar com sua cria... “Quem pariu Mateus, que embale!”

Planejei minhas duas gravidezes. Nenhum dos dois veio por acaso. Assim que constatei a primeira, tratei logo de me cuidar: mudei hábitos alimentares, segui à risca orientações de meu obstetra e li tudo que me foi possível na época. As revistas “Gravidez e Parto”, “Pais e Filhos” e os encartes de jornal com os conselhos do pediatra Dr. de Lamare tinham lugar certo em minha mesinha de cabeceira. Eu os lia com tanto interesse, que parecia aluno responsável estudando para prova.

Finalmente chegou o momento de passar pelo teste. Recebi a tão esperada prova. E que dificuldade, meu Deus!!!  Foram dias, meses,  anos... e eu cheia de dúvidas; muito pouco sabia resolver. De nada adiantou toda a leitura, tanto preparo... parece que emburreci. Entre tantas e tantas  situações que me deixaram aflita, destaco a famosa cólica dos primeiros meses. Tudo que li como sobre lidar com ela, caiu por terra... Aquele serzinho frágil, contorcendo-se de dor, deixava-me em pânico; mesmo eu sabendo que é normal, que era o organismo se adaptando ao alimento...  E choravam eles, e chorava eu. Não sei por que Camilla e Guilherme tiveram tanta cólica, já que cuidei tão bem de minha alimentação... E o que me deixava mais encucada, era quando ouvia mães amigas dizerem que seus bebês não tinham cólica, que só choravam pra mamar... Como assim??? Que fenômeno normal é esse (os  pediatras dizem ser normal) que só meus filhos tinham?

Vivi meu purgatório materno, como responsável por duas crianças que hoje já são adultas, e, portanto, libertei-me de tanta insegurança.
Tornei-me avó há dois anos e dez meses. E sem que eu me preparasse para viver esta doce aventura, recebi Clara e Valentina em meus braços. Gêmeas e prematuras de sete meses, de tão miúdas, cada uma cabia na palma de minha mão. Clara veio para casa primeiro;  depois de passar vinte e três dias  em uma UTI Neonatal, enquanto  Valentina chegou depois de trinta e três dias na mesma UTI. E aí, minha gente,  aquela prova tão difícil que eu quase não soube responder no tempo de meus filhos, de repente se tornou facílima... A começar pelo primeiro banho que eu dei nas duas. Enquanto com eles precisei de duas pessoas amigas para fazê-lo por mim, com as netas foi tranquilo... Eu não tinha aqueles pontos inflamados do parto normal e da cesárea, muito menos o medo de não saber cuidar do umbiguinho, de afogar o bebê... enfim. A cólica que elas também tiveram, eu tirei de letra. Enquanto a mãe delas também ficava nervosa e apavorada com a choradeira, eu as pegava ao colo (uma de cada vez) e as acalentava até aliviar aquele desconforto...

Não, não tem sido um mar de rosas cuidar das duas, até porque criança é criança; sem essa de que é calminha e não dá trabalho... Dá trabalho sim, e muito... Só que o purgatório me preparou muito bem. Encaro tudo com calma, paciência, determinação e muita FÉ em Deus e na Virgem Maria. Sempre recorro a Eles para que eu consiga agir com a sabedoria a necessária.

Cheguei à conclusão de que o purgatório purificou minha trajetória materna e me tornou uma avó coruja e muito feliz.

(Zenilda Soares - mãe da Camilla e do Guilherme e avó das gêmeas Clara e Valentina)

7 comentários:

  1. Lindo o seu texto, a começar pelo antitético título, que remete tão bem ao que é ser mãe (ser vó ainda não experimentei! rs), e que lindas as abdicações que temos que fazer para conseguirmos o que queremos! Todo mundo, no fundo, quer se aproximar da perfeição... não tem jeito... em algum aspecto isso vigora! Pra mim é como mãe! Como erro, como me frustro, e como me puno! Preciso aprender a me perdoar mais...

    Também li muito sobre gravidez, parto e cuidar do bebê... Não vou falar que isso não me ajudou, pois ajudou, mas nem sempre a teoria e a prática caminham juntas... e o curinga é a gente aprender a adaptar o que cabe ou não na nossa rotina! Acho que é aí o X da questão! Não?

    Que lindas as suas netinhas e que bom poder conhecer, a cada texto seu, mais um pouquinho da sua história... Já é uma amiga muito querida e cara, viu! E que bom que está se realizando ainda mais como vó... Isso me deixou esperançosa e com mais vontade ainda de, um dia, Deus me permitir tb ser vó... tão coruja e presente quanto você! Parabéns! Beijos mil.

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    1. Obrigada, minha grande incentivadora! Você me instiga a postar experiências de mãe e avó,o que de deixa muito feliz, porque adoro escrever, embora não sendo escritora. A escrita me transporta e me liberta... Realmente, da teoria para a prática há uma grande distância ... porque temos nossas limitações e somos movidos por emoções...uns nem tanto, mas eu sou a chamada "banana" (rsrs). Tento me policiar; mas, no meu caso, não é tão simples assim . Também acho minhas netas lindinhas, mas eu sou suspeita... E pode acreditar: essa mãezona do Miguel se tornará a avozona do futuro.


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    2. Imagina! Eu que agradeço por topar participar e, por mim, participaria toda semana, de cada tema, pois sinto que vc tem é história (e boa!) pra contar! Bom saber que, de certa forma, a instigo!

      Tb gosto de escrever e pra mim é uma terapia... Tenho escrito menos porque ando desanimada, com uma série de coisas, e também porque as dores logo voltam e aí tenho que me deitar. Me atrapalho, ainda, pra escrever deitada, mas um dia chego lá... ou as dores cessam, até lá, também, o que até prefiro. rs rs rs

      Deus a ouça e que eu seja mesmo uma boa avó... melhor avó do que sou como mãe... mas sempre o melhor que posso ser... em tudo! Beijo!

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  2. A perfeição começou pelo título! Muito original!
    Pois analisando a fundo o que uma mãe passa, principalmente quando se é mãe pela primeira vez, é muito sofrimento com noites sem dormir, choros, preocupações excessivas...etc. A gente vai aprendendo entre erros e acertos e vamos cria do os rebentos.
    Eu fiz a trajetória muito parecida com a sua. Eu procurava me informar de tudo para errar menos, mesmo assim, descobri que entre a teoria e a prática existe uma distância bem relativa. Saimos do hospital com um novo ser nas mãos e temos que nos virar e dar conta do recado.... Como é difícil! A perfeição chega mesmo quando se é mãe com mel, ou seja, avó. Também sou e mais maluca ainda por causa dos netos. Entretanto, percebemos que não podemos opinar muito, nossa experiência só serve para nós mesmas....é uma pena que nem todos sabem usufruir da sabedoria de uma avó.
    Nossos filhos são nossa alegria, nossos netos então... Eles são nossa vida! Por eles passamos quantas vezes for preciso no purgatório para alcançar a plenitude, por eles não temos limites, por eles engolimos sapos, lagartos, cobras, jacarés...
    Amei seu relato e sua linguagem cheia de sabedoria e afeto! Parabéns pelo majestoso texto! As netinhas são muito lindas! As fotos estão encantadoras!

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    1. Muito obrigada pela paciência de ter lido meu texto e pelas palavras tão amáveis... Que maravilha é este mundo virtual, quando se faz bom uso dele.Trocamos experiências, sem nos conhecer, e nos identificamos com as verdades de cada uma...porque mãe é tudo igual... e ser avó é voltar no tempo de uma forma diferente. MATERNAidade me faz tão bem!!!

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  3. Lindo texto! O título impecável!! Este trecho: ("Até hoje, surpreendo-me ao ouvir muitas mães afirmarem que não tiveram problemas, que tudo foi tranquilíssimo... Não, gente, pra mim não foi nada fácil. Às vezes, chego a pensar que sou exagerada;")... Nossa!! Me identifiquei muito com isso!
    Tudo é encantador na nossa vida depois que temos filhos ... Os netos? Bom ainda não sei, pois ainda não sou avó, mesmo tendo idade para ser bisa... Tive filhos muito tarde, depois dos trinta... então está caminhando tudo muito lento rs rs

    Adorei o texto, as fotos! Tudo perfeitinho!!! Parabéns!!

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  4. Pois é...sempre questionei a necessidade que muitas mães têm de mascarar a verdade, em relação aos percalços que passamos com filho pequeno. Acredito que seja fruto de nossa sociedade: incutiram em nós que mãe não pode reclamar; tem que sofrer calada... Como se quem assim o faz, não amasse o filho. Muito pelo contrário... talvez, esteja até mais atenta às necessidades de sua cria. Também não quero dizer com isto que temos que viver só nos queixando... (rsrs) afinal, eles também nos enchem de alegria e realização...e como...Quando Deus achar que chegou a hora, você será avó e muito feliz. Obrigada por ter lido e por ter gostado!!!

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