quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Foram muitas dores!

A minha infância e adolescência foram um tanto conflituosas. Apanhei muito, mas reconheço que eu era muito levada e que fiz minha mãe passar muita raiva. Era uma vida difícil, com sete filhos para cuidar, por isso não a recrimino por todo aquele mau humor. Os dias não eram fáceis para ela, e agora que sou mãe, tenho toda a certeza de que todas aquelas surras doeram muito mais nela do que em mim! Hoje, eu a vejo como a minha heroína e agradeço muito a Deus por ela!

Mas a razão das marcas não foram as surras que levei e sim as palavras duras que atravessavam o coração, e sei que isso também doeu muito nela!

Como mãe que sou, analiso o meu comportamento diante dos conflitos da vida e sinto que muitas vezes agi igual a minha mãe. Posso dizer que foram muitos os momentos que senti doer mais em mim do que neles, seja pelas minhas falhas como mãe, seja por alguns pequenos acidentes que ocorreram com eles. Por isso esse tema emociona tanto, porque mexe com o emocional, com os sentimentos, com as feridas, e isso tudo me traz lágrimas!

Sinto que atravessei um deserto quando meu filho mais velho sofreu bullying escolar. Doeu horrores, cada vez que ele chegou chorando da escola, cada vez que se sentiu incapaz de reagir, cada vez que não quis almoçar, porque estava sofrendo com a zoação dos colegas da escola. Sinto que falhei como mãe quando deixei de ensiná-lo a se defender e, no meio das minhas lágrimas, cheguei a desejar ser uma daquelas mães que recebia reclamação da escola, porque o filho batia em todo mundo. Senti todas as dores do mundo!

Doeu muito também todas as vezes que bati nos meus filhos, em que perdi a paciência quando nem era tão necessário. Muitas vezes achava que podia encerrar o assunto com uns massacrantes tapas e nem pensava se realmente havia motivo para tanto descontrole.  É por isso que dói em mim até hoje aquelas monstruosas chineladas que dei no Elias, sem a menor necessidade, e ele dormiu soluçando e dói até hoje quando lembro da cena. Marcou para sempre!

O lado bom da vida deles, é que sempre tiveram um bom advogado, o pai, que é um homem de grande tranquilidade e muitas vezes, só entre nós dois, pedia para eu ter mais calma com eles, que não precisava de tudo aquilo, e eu pagava de megera, mas acabava percebendo que ele tinha razão. E isso foi bom para mim também!

Outros acontecimentos também foram a razão de muitas dores. Quando uma cadeira assassina, de madeira pura, esfolou os dois dedinhos da mão do Elias e as unhas caíram na hora, foi muito sangue e muito choro. Aqueles pontos foram massacrantes não só nele, mas em mim também! Doeu muito também quando ele queimou o pé na fogueirinha que o Mateus e o Isaque fizeram para brincar. Por causa disso os dois apanharam, sem necessidade e isso doeu muito também!!

São dores e mais dores! Sofri muito quando o Elias viajou sozinho, aos treze anos de idade, para João Pessoa, na Paraíba, para disputar os jogos estudantis. Quando fiquei sabendo que ele estava no aeroporto com dor de cabeça e que ainda ia ficar horas esperando o voo, quase morri, senti calafrios, perdi o sono, senti uma sensação horrível!

Também me dói muito e ainda sinto muita culpa pela forma como conduzi o Mateus nos seus primeiros anos de vida, tratando-o com muita dureza e isso fez dele um menino muito tímido, mas, de certa forma, ele deu a volta por cima e aprendeu a se defender, acho que até demais, pois é argumentador e luta pelos direitos dele, principalmente quando o negócio a resolver é comigo. (risos)

Sei que ainda haverá desertos a atravessar, mas a minha oração por eles é que tenham sabedoria para enfrentar os dramas da vida. Que sejam felizes nas escolhas deles, no casamento, vida profissional, para que não sintam tantas dores! E que sejam iguais ao pai deles, que herdem toda essa tranquilidade!

 Hoje eles não levam mais tantas broncas, pois são meninos maravilhosos, amáveis, com apenas uma diferença: o Mateus é mais cheio de mistério e o Elias é mais de conversar! Quem for se casar com ele, se prepare, porque é muito conversador, igual ao pai.

As broncas que levam atualmente é  por causa da bagunça no quarto, mas isso tenho a certeza que dói só em mim. (risos)

                                                                                (Maria José, mãe dos bagunceiros Mateus e Elias)

5 comentários:

  1. Que lindo seu texto Maria, não há como não se emocionar com suas palavras...Realmente falhamos muito, reproduzimos muito do que fizeram conosco.Carrego comigo muitas cicatrizes, sei também, que deixarei muitas nos meus pequenos, mas a vida é assim.Somos humanos e como tal erramos,o importante é reconhecer nossas limitações e tentar não carregar tantas culpas.

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  2. Sempre me emociono ao ler os seus textos,pois entendo cada palavra e até pq vivi junto com vc essa parte que diz respeito a nossa infância,realmente são lembranças que dói bastante,mais que tbm só entendemos quando chegamos na condição de mães,parabéns!❤

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  3. Legal Maria se eu fosse escrever o meu daria o triplo de páginas. ...

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  4. Legal Maria se eu fosse escrever o meu daria o triplo de páginas. ...

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  5. Seu relato emociona por vários motivos: é lindo, é verdadeiro e doloroso ao mesmo tempo. Não é fácil também para uma mãe assumir que, por várias vezes, foi muito rigorosa nas correçõs. Isso não diminui o amor, isso é uma forma de amar também ligada à preocupação de fazer o correto e de formar bons cidadãos para o mundo. Nos acertos, aplaudimos ; nas falhas ou erros, aprendemos...então tanto um como o outro fazem parte do processo porque nesse mundo ninguém nasce sabendo tudo.
    Eu compreendo as dores e suas lágrimas e tenho,certeza de que seus filhos também. Eles sabem que ninguém os ama mais que vc. Amei cada pedacinho do texto e acredite: ele emociona tb quem o lê porque o coração de mãe é uma forma única distribuída em endereços diferentes. Parabéns pelo maravilhoso relato!!

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