segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tal mãe, tal filha!

Tempo rei, absoluto e relativo. Senhor de todos os ritmos. Dimensão presente em todos os aspectos de nossas vidas. Tempo que nos traz lembranças de tempos idos e vividos, como as lembranças que nesse momento me vêm fracas, nebulosas, outras vivas e fortes... Por isso, acho que a minha história é única, diferente e igual a tantas outras, mas minha... Namorei um rapaz por seis longos anos. Fui precoce, comecei aos catorze. Aos vinte anos, descobri-me grávida e estava só. Ao saber da minha gravidez, o dito cujo, depois de propor que eu abortasse, simplesmente sumiu, desapareceu, escafedeu-me da minha vida. Continuou e continua morando na mesma cidade que eu, mas hoje, digo sem rancor e sem mágoas que só me lembro de que está vivo, quando o vejo, mas deixemos isso de lado e vamos ao que interessa...
Nasci em família tradicional, do Vale do Jequitinhonha, terra centenária, muito tradicionalista, fui educada à melhor moda mineira e aprendi desde cedo, que ter filho sem casar era “feio”. 
A chegada da minha “broa” se deu em um momento de dor, sofrimento e desilusão, mas por ela enfrentei e enfrentarei o mundo... Foram nove meses de uma angústia sofrida, calada. Eu nada podia fazer, nada podia falar, mas a minha dor transformou-me, deu-me mais, infinitamente mais força. Eu precisava, por mim, por ela.  Fui ao médico algumas poucas vezes, na época não havia ultrassom e eu só conheci a minha pequenina no dia em que ela chegou: 26 de fevereiro de 1985. Quando vi aquela carinha assustei-me, tive medo, um medo que durou uma fração de segundo. O medo transformou-se em AMOR e em CERTEZA: era a verdadeira FILHA DA MÃE. Só se parecia comigo. Ainda hoje, ela só se parece comigo, em tudo: “cara de uma, focinho da outra”: TAL MÃE, TAL FILHA. E eu fui e sou “PÃE”. Quantas vezes me debrucei sobre o berço dela e cantei: “Menininha não cresça mais não, fique pequenininha na minha canção...”. Ela CRESCEU, sem medo da vida, das desilusões e do bicho-papão. Hoje a minha “senhorinha levada” tem 26 anos e me ensina muito mais do que eu a ela. Aprendemos, juntas, a tecer nosso destino, imersas na imensa teia da vida, com vários fios, cores, desenhos e  incorporando a nossa identidade “vamos bordando a nossa vida, sem conhecer por inteiro o risco”... Ela cuida tanto de mim, que às vezes é difícil saber quem é a mãe, quem é a filha. E precisa?
(Por Irene Sena -- mãe da Sâmia)

10 comentários:

  1. Que lindo!!!!
    Sou chorona assumida!
    Às vezes olho minha filha (hj com 3 anos) e choro, pensando que ela vai crescer... A gente quer muito isso, mas no fundo, é tão gostoso essa ingenuidade, essa alegria de viver dos pequenos...
    Parabéns pelo texto! Me emocionou de verdade! Muitíssimo bem escrito!
    Bjs

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  2. Assim como a Nina, me acabei de chorar lendo este texto! A Irene arrasa, e em tudo! É um exemplo de guerreira e como mãe e filha são parecidas, em tudo! Foi através da Sâmia que eu a conheci e hj nem sei qual das duas eu amo mais! Acho que igualmente, até pq nem sei onde termina uma e começa a outra, tão associadas estão!

    Às vezes fico me autoflagelando por Miguel não estar sendo criado tão perto do pai como eu gostaria e planejei, mas lendo este depoimento eu fico mais aliviada. Dá para ser PÃE! E olha que eu acho que, no meu caso, nem será tanto assim!

    Sei que todos nós aprenderemos (e muito) com essa mulher!!! Esta foi apenas a primeira lição... de muitas! Estou feliz em tê-la aqui! Beijos!

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  3. Irene, parabéns amiga pela linda história, triste inicialmente, mas Deus te reestabeleceu, olhou p/ você e te deu coragem como Ele sempre faz! Que alegria por você pude sentir, pelo que vocês são hoje, depois de tudo! Por isso sempre lembro da passagem biblica: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" Sal 30:5 Parabéns!!!!

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  4. Sua filha está retribuindo todo o amor que você deu e continua dando pra ela. Aliás, não podia ser de outro jeito, pois é com amor que o amor se paga. Meus parabéns às duas!

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  5. Me emocionei com sua história, Irene! Um tanto triste no início...e agora, você tem uma luz ao seu lado. Lindo texto!

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  6. Irene

    Você me fez lembrar do filme "Colcha de Retalhos" tanto na intensidade da sua relação com sua filha como na emoção que nos provocou.
    Você soube transformar seu momento de dor em grande aprendizado e não perdeu a poesia que é a vida.

    Abraço


    Mariuza

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  7. Nossa, Irene, que texto forte, bonito, bom de ler!! Mexeu comigo.

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  8. Comovente a sua história, Irene! Pude imaginar o quanto foi difícil para vocda criança deve ser muito doloroso. Mas você manteve-se forte e firme e hoje você vê que valeu a pena apesar de tudo, não é mesmo?

    Gente, estou me emocionando tanto com estes posts!

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  9. De Zizi

    Irene, uma criança numa casa é uma luz que faltava, uma esperança renascida, uma nova oportunidade de recomeço para um outro desfecho....enfim, são tantos prêmios oriundos do nascer de um ser que não tenho dúvidas que carregar uma nova vida é saborear com Deus sua obra-prima: a criação da humanidade. Quando Deus coloca em nosso caminho uma criança, há um propósito, disso não tenho dúvida alguma. Você é prova viva disso. Parabéns pela sua coragem, sua história é linda, seu texto mexeu comigo. Chorei sim, como evitar?? ;))

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  10. Irene, fiquei arrepiada lendo seu texto, ameiiiiii. Parabéns, amiga! Tenho certeza que você é uma pãe maravilhosa e sempre aprendemos muito com nossos filhos. bjss

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