domingo, 9 de outubro de 2011

“Que seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure...”



Ah, esses amores, essas paixões tão arrebatadoras quanto puras...  Olhinhos brilhantes à mera  lembrança, ou menção daquela pessoinha indispensável ao seu dia-a-dia, quase sempre da escola... Todos  temos pequenas tramas poéticas para contar sobre a iniciação amorosa dos nossos filhos, sem contar o primeiro grande amor que somos nós, sua mãezinhas, é claro!  Ainda que muitos subestimem ou mesmo supervalorizem esse acontecimento, ele tem seu lugar,  pois  dirigir o olhar para o outro, tomar o outro como alvo de admiração, de carinho, é um início de amadurecimento, do sair de si mesmo, desabrochar.

Com os meus não foi diferente, e lembro-me direitinho da alegria e das emoções que aquelas convivências propiciaram. O Tariq se apaixonou quando estava no 1º ano e sua angústia era que mais 2 colegas também disputavam a atenção da menininha. Quando ele dançou com ela a quadrilha, deve ter  ficado com cãimbra nas bochechas, pois o sorriso não desgrudava!  Eu achava dentro do caderno bilhetinhos rudimentares,  nunca entregues à destinatária, por falta de coragem, imagino. Mas sua  primeira paixão foi sorteada para o Colégio Pedro II e encerrou-se ali aquela curta história. Quando, 2 anos depois, descobri o irmão mais velho dela  na minha turma de 8º ano, fiquei  super feliz e fui, toda saltitante, eufórica, contar pra ele. Recebi um desinteressado e "maduro" “Ah, que legal” que me serviu para entender a fugacidade desses “relacionamentos”.

A Talita também estava na Alfabetização quando teve seu coraçãozinho tomado por um sentimento que a deixava afogueada, emocionada e chorosa. Isso porque o menino sofria bullying (hoje temos este “diagnóstico”), cantavam pra ele aquela musiquinha grotesca “cabeça de burro, orelhas de ET”, e a Talita ficava passada com a agressividade dos colegas. Ela se preocupava muito com ele e às vezes ensaiava uma tímida defesa do garotinho, mas a turma se voltava contra ela e seu desespero era não persistir na guarda do bem estar do seu amado! Ano passado ela descobriu que ele está no mesmo colégio pra onde ela foi, mas sequer teve coragem de chegar perto e falar um oi!!

Hoje, ele com 9, ela com 14, ensaiam seus primeiros passos na conquista de olhares e atenções, e conversamos sobre seus lampejos amorosos e suas inseguranças. Estão amadurecendo  sem pressa, sem cobranças que não as deles próprios. Quando lamentam a demora, brinco com a minha, sabem que só deixei de ser BV com 16 anos, ainda que pareça uma aberração aos nossos dias de erotização precoce. (No show do Justin Bieber a Talita e eu ficamos atônitas com menininhas de 7, 8 anos aos berros, histéricas, ao lado de suas orgulhosas mamães...) 

Viver um dia de cada vez, como me ensina meu pai, parece impossível, dada a nossa ansiedade. E quando éramos novinhos parecia ainda mais insuportável... Tudo tem seu tempo, é saber esperar.
                                                                                                    (Else Portilho)

3 comentários:

  1. Else, que bonito compreender dessa forma a fase da primeira paixão que os pequenos passam, lembrando e comparando com as próprias. o amor é uma química, só pode ser!! O amor/paixão quando chega, vem para derrubar, nos transforma como ninguém. Mas não pode derrotar a consciência, a razão , porque são apenas fases e passam logo. Amei seu texto, acho o máximo sua forma profunda, sensível, singular de ver o mundo e lidar com as coisas.

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  2. Elsinha, como sempre vc nos presenteia com um novo modo de olhar para o mesmo tema e não se esgota! Que bom saber mesmo que somos, na verdade, o primeiro amor dos nossos filhos... e amor eterno, que não entra na contagem de conquistas, né?

    Adoro, de verdade, quando o domingo chega para ficarmos conhecendo um pouco mais da sua historia como mãe e conhecermos mais os seus filhos, através do seu olhar, o olhar mais lindo que poderia haver! Já era apaixonada por vc, por seu jeito de se expressar e agora a paixão está ganhando mundo e abrigando tb a Talita e o Tariq! Ahhh, e, com todo o respeito, o Mô tb. Família linda e cheia de historias para contar! Dá um monte de livros! Uma Bienal só com a Else! :-)

    Beijooooooooooooooooooooos

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  3. Eu não acredito que ainda não tinha comentado esse seu texto, amiga linda! Mas eu já tinha lido, acredite....pelo cel! rsrs Fico doida com eles....são sempre tão leves, sensíveis!

    Amo o jeito que escreve.

    Beijo, Elsinha.

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