sábado, 5 de novembro de 2016

Dói mais em mim...


O desejo de ser mãe está  vinculado às cenas doces como:  brincar com o filho, alimentá-lo, passear, correr, ensinar-lhe os primeiros passos e as primeiras palavras, acompanhá-lo à escola, lidar com as traquinagens, ajudá-lo a descobrir o mundo e tantos outros momentos únicos que permanecem em nossa memória,  pois cada uma dessas fases é singular e marcante. 

Entretanto, os enredos das narrativas maternas são compostos de capítulos diversificados e, entre eles, as lágrimas ou a angústia tiveram seu papel garantido, sobretudo naqueles momentos difíceis em que temos que transformar “tripas em coração”. É nesta hora que desejamos trocar de lugar com eles para evitar que sofram (ahh, se isso fosse possível!!). Os exames são necessários, as picadas doem, mas garantem a saúde da criança; isso é óbvio e inquestionável.

Mesmo certa de tudo isso, como é difícil para uma mãe acompanhar as primeiras vacinas, as injeções, a ida ao dentista, os exames de sangue, os soros, as internações,  as possíveis cirurgias... O mundo desaba para ela. Mesmo aquelas, aparentemente fortes e corajosas,  escondem (necessariamente) um desespero misturado com insegurança, porque sabem que não tem com quem contar nessas horas e não há como fugir.

Como mãe, também experimentei tais fases as quais renderam episódios ora hilários, ora dramáticos. Conheci a maternidade na década de 80. Nessa época não se faziam os famosos testes do pezinho. As crianças nasciam, ficavam no berçário e eram levadas aos quartos das mamães para serem alimentadas, depois retornavam ao cantinho coletivo de bebês.  Só havia algum procedimento doloroso se surgissem problemas de saúde que precisavam ser tratados.

A efetiva jornada materna inicia-se em casa. O medo já começa no primeiro banho. O receio de derrubar ou machucar aquela coisinha tão frágil, meu Deus!! A madrinha do Danilo fez questão de dar o primeiro banho nele; depois, ficou por minha conta segurar, banhar e limpar aquele serzinho de 2,500 kg. Como fazia parte do pacote tais funções,  enfrentei os desafios. Na segunda vez como mãe, mais segura pela experiência que já tinha, encarei, mais confiante, a Miúda de 2,300 kg. Descobri, então, que Deus não olha só as crianças, mas as mães, para que estas possam, com garantia,  dar sequência ao ilustre ofício a elas determinado.

Mesmo assim, algumas falhas,  não pude evitar: Danilo caiu da cama quando bebê e esse foi um dos primeiros sustos. Depois, outro maior: nos primeiros meses, ele chorava muito devido às dores de barriga e eu passava o ferro quente em uma fralda e a colocava sobre sua barriguinha para amenizar as dores. Em uma dessas ocasiões, o ferro quente escorregou e caiu na perninha dele, fez uma cicatriz de queimadura. Tanto o tombo quanto a queimadura me fizeram sentir uma ÍNÚTIL e INCOMPETENTE, a pior mãe do mundo!!

A Patrícia sofreu menos nesse sentido porque já tinha uma mãe mais esperta e experiente. A única e grande preocupação na fase infantil foi seu pouco peso. Era muito magrinha, demorava em ganhar algumas gramas, e isso me preocupava demais.  Recorria a médicos desesperada e eles não davam nenhuma importância ao fato, pois, segundo eles, a menina era saudável e aquele era seu metabolismo.  

Meus filhos, quando crianças e adolescentes nunca ficaram internados,  nem tiveram nenhum osso do corpo quebrado. O vilão da história foi a Benzetacil que, infelizmente, era um dos antibióticos mais receitados naquela época. Sempre que alguém aparecia com qualquer tipo de infecção ou febre, “Benzetacil  nele”! A garganta das minhas crianças inflamava com facilidade e, sabendo qual remédio seria indicado pelo médico, eles entravam em pânico,  pois conheciam o sabor doloroso e inigualável daquela  picada cruel e insensível.

O Danilo, na hora da medicação,  fugia, driblava as atendentes, escapava dali, escorregava daqui. Precisava de uma “galera” para pegá-lo e segurá-lo. Eu passava a maior vergonha porque ele, além do papelão que fazia, ainda xingava as atendentes, gritava que elas estavam loucas, que queriam matá-lo, etc... A primeira vez que a Patrícia assistiu a cena de desespero do Danilo, ela ficou tão assustada com aquilo que ajoelhou-se ao chão e com as mãos postas, pediu “pelo amor de Deus, não matem meu irmãozinho!”.

A Patrícia, depois que foi apresentada à famosa injeção em uma crise de amidalite, também ficou em alerta. Todavia, não utilizou as estratégias escandalosas do irmão. Na sala do médico, quando ouviu  que iria tomar aquela injeção dolorida, começou a chorar e pediu ao médico que trocasse o remédio porque ela  iria sofrer muito. Falou com tanto jeitinho que comoveu o doutor. A pedido dele,  foi incluído no conteúdo da injeção uma dose de Xilocaína para anestesiar o local. Quando sentiu a diferença, ela adorou e,  desse dia em diante, toda vez que ia ao médico,  fazia a mesma solicitação e seu pedido era atendido.

Os momentos das injeções, vacinas, exames de sangue eram uma mistura desigual de humor e drama. Eu tinha que acompanhá-los e controlá-los, mas por dentro eu estava apavorada porque as agulhas (até hoje) me aterrorizam e eu não podia deixar que percebessem essa minha fraqueza. Eu simplesmente segurava-os firmemente e virava o rosto, fechando os olhos, pensando “vai acabar logo, vai acabar logo”.  Sou daquelas que morre de medo, mas encaro se precisar, só para não delegar minhas funções a outrem.

Hoje, a infância e a adolescência deles retomam a pauta por meio dos relatos ou nas fotografias e rendem muitas risadas com gostinho de saudades. Eles cresceram e superaram o medo das agulhas. Quanto a mim... Não aprendi ainda a lidar com machucados, fraturas, cirurgias ou quaisquer procedimentos similares. Dói mais em mim...

                                        (Zizi Cassemiro -  Mãe do Danilo e da Patrícia; avó do Gabriel e do Johnny)

2 comentários:

  1. Como você mesma disse Zizi, como a gente sofre, chega a doer mais em nós do que neles!! É verdade, são fases que cada uma de nós tem que passar como mães, mas como você, eu também tenho dificuldades na hora de enfrentar as dores, fraturas e tal. As risadas sobre os relatos da infância encantam né!?! Uma delícia!! Seu texto mais uma vez, cheio de doçura e muito carinho. Amei!!!

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    1. Obrigada, Maria!! Esses relatos dos nossos ex-pequeninos são tão doces, por mais que eles tenham aprontado, a gente lembra com tanto carinho...dá vontade de reviver aqueles momentos!!

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