quarta-feira, 15 de março de 2017

Como lidar com as perdas?!?


Muito difícil a gente se preparar para lidar com as perdas, imagine então ter de preparar filho para com elas lidar! Parece uma missão impossível, ou quase! Mas eu tento! Tento criar o Miguel na travessia entre o ser sensível e o se proteger, se poupar, coisa que eu, com mais de quarenta, ainda não sei fazer, confesso. Apanho um bocado nesta segunda parte: a de me poupar. Só sei sentir, só sei sofrer, mas me livrar do que absorvo é algo que ainda tenho buscado. 

Minha primeira grande perda foi aos dez anos, quando perdi minha vó paterna, com quem a gente morava. Fiquei sem chão. Levei aaaaaaanos para me recuperar desse baque e hoje já até toco no assunto sem chorar. Depois perdi a minha avó materna, mas não senti tanto porque via menos, não dividia com ela a minha rotina, como era com a outra. Perdi, também, vários bichos. Acho que morri um pouco com cada um deles. Fazia o maior escândalo e ficava mal com cada gato, cachorro, galinha, pintinho, passarinho que enterrava. E precisava ser próximo? Não. Sofri quando Tancredo Neves morreu, Ulisses Guimarães, Ayrton Senna, Mamonas Assassinas, Vander Lee e mais dezenas e dezenas de pessoas. E precisava ser famoso? Também não. Sofri por tantas pessoas anônimos que caíam de avião, que morriam em desastre ou incêndios, que eram vítimas de bala perdida... 

São muitas perdas acumuladas já! De alunos, de ex-alunos, de parentes, de amigos, de pais e mães de amigos, do meu primeiro grande amor (Leandro Cebola), até que veio, até agora, a mais dolorosa delas: a do meu pai. Segunda vez que o meu chão sumiu. Sumiu e eu tive que providenciar outro, porque não era mais criança e adulto parece que nunca mais pode sofrer inteiro, sem se preocupar com nada. A gente não quer é preocupar o outro, quem fica e sofre tanto quanto você, ou mais até! 

O Miguel só perdeu, até hoje, uma cachorra, a Lilica, e não sofreu taaaaaanto porque entendeu que ela estava doente e sofrendo. A morte, pra ela, foi um alívio. Eu também sabia disso, mas, mesmo assim, sofri. Ele que me consolou... 

Tento me preparar para lidar com as perdas que ainda virão, administrando-as nesse amontoado de perdas ao longo da vida, mas a sensação que tenho é que nunca conseguirei, então tento transmitir para o meu filho que todo mundo só está aqui neste mundo de passagem... ninguém é imortal... e que chato seria se todo mundo vivesse para sempre... O importante é a gente ter a consciência em paz e a certeza de que aproveitou aquela pessoa ou bichinho o máximo que pôde! Que a gente deixou bem claro o quão especial cada uma era pra gente! E que mesmo assim não é nada fácil... a saudade aperta... as lembranças nos visitam... só Deus mesmo para nos manter firmes... só Ele...!!!

(Andreia Dequinha - mãe de um rapazinho chamado Miguel)

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